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Demora 1 x 0 Seleção
A seleção brasileira masculina de futebol estreia neste domingo na Copa América, em Brasília. O mais provável é uma vitória sobre a Venezuela, freguês nos últimos 50 anos – em 25 confrontos, o Brasil só perdeu um amistoso, em 2008. Mas o grupo entra em campo derrotado pela demora e pela forma ao se posicionar quanto à participação na competição e ao fazer de conta que não tomou conhecimento das acusações de assédio moral e sexual contra o presidente afastado da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo.
No momento em que se cobra opinião de todos sobre quase tudo – e a grande maioria dos jogadores expões suas preferências diariamente por suas redes sociais -, a espera de quase uma semana para dizer que vão participar do campeonato gerou uma enorme frustração. Enquanto demonstravam sua insatisfação com os fatos de forma quase lacônica, jogadores e comissão técnica deixaram prosperar versões de que poderiam boicotar a Copa América.
Na última sexta-feira (4/6), depois da vitória sobre o Equador pelas eliminatórias da Copa de 2022, o capitão Casemiro disse: “Nosso posicionamento todo mundo sabe. Mais claro impossível”. O tom sério fez muitos acreditarem que o grupo não disputaria a Copa América. Mas na terça-feira (8/6), depois da vitória sobre o Paraguai, os jogadores disseram que entrariam em campo: “Somos contra a organização da Copa América, mas nunca diremos não à seleção brasileira”. Se era para anunciar a participação, deveriam ter feito antes. A nota tampouco se solidariza com as famílias e amigos dos quase meio milhão de mortos pela Covid-19.
Faltou agilidade, transparência e demonstração de empatia, itens fundamentais no enfrentamento dessa crise e na construção e preservação de reputações. Ao final de uma semana de desgaste, passaram a impressão de insensibilidade, de que cumprir contrato se sobrepõe a toda e qualquer consequência do compromisso assumido.
Cem anos de esporte e política
Num determinado trecho da breve nota, atletas e comissão técnica dizem que “todos os fatos recentes nos levam a acreditar em um processo inadequado em sua realização (da Copa América). É importante frisar que em nenhum momento quisemos tornar essa discussão política”. Uma boa leitura de cenário também é fundamental para um posicionamento correto. A questão foi politizada quando o governo federal bancou a realização da Copa América a pedido do presidente da Confederação Sul-americana de Futebol, a Conmebol. O caráter político foi reafirmado quando a competição virou tema da CPI da Pandemia e foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF) por provocação de partidos políticos.
Não seria a primeira vez que futebol e política seriam misturados. Em um artigo de 2007, os especialistas em relações internacionais Alessandro Biazzi e Virgílio Franceschi Neto mostraram que, cem anos atrás, às vésperas do embarque da seleção para um campeonato na Argentina, o presidente Epitácio Pessoa pediu que não fossem jogadores negros “a fim de preservar a imagem do país no exterior”. Segundo os autores, “a ideologia da democracia racial invertia a ideologia difundida na elite de que nosso atraso enquanto país viria da mestiçagem, feita em comparação com o maior desenvolvimento dos EUA, em que a separação entre negros e brancos na sociedade é nítida”.
De Vargas à Rio-2016
Na Era Vargas, o presidente-ditador fez da filha, Alzira, madrinha dos jogadores nacionais. Getúlio enxergou no futebol um mecanismo de coesão na sociedade capaz de aproximar as diferentes regiões e uniformizar práticas em todo território nacional, de acordo com Biazzi e Franceschi Neto. O governo federal atuou para superar rivalidades regionais e levar os melhores jogadores para a Copa da França de 1938, a primeira transmitida pelo rádio. O Brasil terminou terceiro lugar com a consagração de Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”.
Entre a construção do Maracanã – que orgulhava muitos brasileiros por ser o maior estádio do mundo até o final do século passado – para sediar a Copa de 1950 até a realização a Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016 no Brasil, com forte participação governamental, são muitos e antigos os exemplos da relação íntima entre esporte e o poder político. Errou quem avaliou o cenário atual.
Pelé, Ali e Mandela
Mandela e Pelé, exemplos de resiliência e poder de comunicação (AFP)
Não é só no Brasil que esporte e política andam de mãos dadas. Faz parte da mística em torno do Santos de Pelé que o time parou uma guerra entre as tropas da Nigéria e os separatistas de Biafra para ver o clube paulista jogar, em 1969, a convite do governo nigeriano. Meses depois, os separatistas foram vencidos. A luta do século, como ficou conhecido o confronto entre os pesos-pesados George Foreman e Muhammad Ali, aconteceu no Zaire (atual República Democrática do Congo) em razão do patrocínio do governo local, fato incomum há 50 anos. Ali recuperou o título mundial que lhe fora cassado por se recusar a lutar no Vietnã.
Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos já foram palco de muitas manifestações políticas. O primeiro boicote ocorreu em 1956, em Melbourne, na Austrália. Egito, Iraque e Líbano desistiram da competição em represália aos ataques israelenses ao Canal de Suez. A África do Sul foi banida dos Jogos por 32 anos por causa do Apartheid. Nos anos 1980, em plena Guerra Fria, os Estados Unidos lideraram um boicote de mais de 50 países aos Jogos Olímpicos de Moscou. Em 1984, os então soviéticos deram o troco e ficaram de fora das Olimpíadas de Los Angeles junto com outros 13 países do bloco soviético. A exceção foi a Romênia, que terminou em segundo lugar no quadro de medalhas.
Mais recentemente, Nelson Mandela se valeu do rugby para diminuir a tensão racial pós-Apartheid. Em 1995, contrariando muitos de seus assessores, o recém-empossado presidente da África do Sul negociou com os dirigentes do Comitê Sul-africano de Esportes, recém-dominado por negros, a apoiar a equipe branca do Springboks, a mais vitoriosa do mais popular esporte do país, para que esse apoio alcançasse a população. Deu certo. O Springboks derrotou os imbatíveis neozelandeses do All Blacks na final da Copa do Mundo de Rugby, em 1995, feito comemorado nas ruas de todo o país por negros e brancos.
Boa intenção e má percepção
Grávida, Kathlen foi morta a tiros quando saía para o trabalho (Reprodução Instagram)
Na rotina de tragédias que abala os moradores das favelas cariocas, a vendedora Kathlen Romeu foi morta a tiros supostamente disparados pela PM numa favela da zona norte do Rio de Janeiro, ao sair para trabalhar, na última terça-feira (8/6). O crime gerou comoção, potencializada pelo fato de a vítima estar grávida de 14 semanas.
Com a intenção de ajudar a família da funcionária neste momento de dor e revolta, a marca de moda feminina onde Kathlen trabalhava anunciou que toda a comissão da venda feita com o código que identificava a vendedora seria revertida para a família. Mas o gesto gerou protesto nas redes.
A empresa recebeu duras críticas nas redes sociais por, supostamente, se valer da tragédia para impulsionar seus resultados e lucrar com a dor da família. Mas foi ágil e certeira na resposta. Não procurou disfarçar, assumiu o erro rapidamente e reafirmou o suporte à família independentemente de qualquer venda. Ficou a lição: até mesmo a melhor intenção deve ser bem comunicada para não gerar um grande ruído.
Para ler e ver
A estratégia de Mandela e o contexto político da luta entre Ali e Foreman são contados em detalhes em livros e filme. Em A Luta (Companhia das Letras), o jornalista Norman Mailer, duas vezes ganhador do prêmio Pulitzer, situa o confronto em meio às tensões políticas e raciais dos anos 1970. É curioso o interesse que ele desperta no leitor, mesmo todos sabendo o resultado da luta.
A habilidade política de Mandela é contada em Invictus, de 1995. O filme de Clint Eastwood é estrelado por Morgan Freeman, que vive Mandela, e Matt Damon, que faz o capitão da equipe sul-africana de rugby. Os dois foram indicados ao Oscar de melhor ator e melhor ator coadjuvante, respectivamente, mas não levaram.
O filme foi baseado no livro Playing the enemy: Nelson Mandela and the game that made a Nation (Driblando o inimigo: Nelson Mandela e o jogo que construiu uma nação, em tradução livre), do jornalista John Carlin, sem tradução para o português.
Assista ao trailer do filme Invictus no vídeo abaixo.
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