Houve muita repercussão na mídia global sobre o anúncio de Jacinda Ardern da renúncia ao cargo de primeira-ministra da Nova Zelândia. Ela havia se destacado pela atuação durante a pandemia e pela humanização que havia imprimido ao cargo. Mas também houve surpresa com o motivo e a franqueza. Depois de seis anos na liderança do país, Jacinda Ardern disse que não tinha mais “combustível suficiente no tanque”.
A notícia da desistência ao cargo da primeira-ministra neozelandesa motivou debate e reflexões na mídia em todo o mundo. O jornal britânico Financial Times publicou artigo da executiva-chefe do think-tank New America, Anne-Marie Slaughter, com críticas ao termo “ter tudo” (“having it all”). O termo é usado para descrever a jornada de mulheres para encontrar o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
A autora conta ter renunciado, anos atrás, a um cargo de destaque no Departamento de Estado dos Estados Unidos, e fala sobre a viralização de seu artigo contando sobre o dilema que a levara a deixar o cargo. Para Anne-Marie, o termo “having it all” é pobre e traduz uma versão estreita do feminismo.
A expressão surgiu com a publicação do livro de Helen Gurley Brown, em 1982: “Having It All: Love, Success, Sex, and Money..Even If You’re Starting with Nothing” (em português, “Tendo tudo: amor, sucesso, sexo e dinheiro … mesmo que você esteja começando do nada”. Helen Brown foi editora da revista Cosmopolitan por 20 anos, e procurou compartilhar a receita com um crescente número de mulheres solteiras e trabalhadoras.
No artigo publicado no Financial Times, a autora Anne-Marie ressalta que ao longo de seu mandato Jacinda Ardern foi pioneira em um estilo de liderança mais humano e um modelo para os líderes que “navegam em terríveis crises humanas”. Anne-Marie defende o banimento do termo “tendo tudo”, a menos que se esteja preparado para aplicar o mesmo padrão ao trabalho de homens.
“Devemos parar de colocar as carreiras das mulheres em detrimento da educação dos filhos”, diz. Chegou a hora de pensar em como redefinir metas de sucesso para todos, homens e mulheres, “sejam líderes individuais ou de economias inteiras, para que possamos abrir espaço para bem-estar ao lado de competição e ambição”.