As eleições para a presidência dos Estados Unidos são o mais importante laboratório vivo para se entender como funciona a democracia norte-americana. São também uma aula sobre imprensa livre. E uma lição ímpar sobre como funciona o ecossistema de comunicação digital contemporânea.
Foi uma eleição multimídia, omnichannel, sem fuso horário, sem distância geográfica. Uma apuração voto a voto, estado a estado, uma torcida global, uma aula de comunicação visual. Surgiu um novo “léxico” capaz de superar barreiras linguísticas.
Canais multimídias foram inundados por GIFs e infográficos que alternavam as cores vermelha e azul em piscas e alertas. Comunicação instantânea, voto a voto. Os “swing estates”, que poderiam decidir a eleição, ganhavam vida nos mapas de telonas e telinhas.
Muito ainda vai ser processado por analistas no “debriefing” que começará a ser feito a partir de agora em todo o mundo. Mas já é possível apontar quem vai figurar no pódio dos vencedores, além da iminente vitória de Joe Biden, candidato do partido Democrata. “Go Biden” foi um grito que se fez ouvir em várias mídias, em múltiplos canais, até mesmo em estradas físicas em diversos estados norte-americanos.
O mundo entrou em outro ritmo a partir do momento em que encerrou a votação na terça-feira, 3 de novembro. Memes e hashtags desfilaram em timelines de milhares de pessoas em todo o mundo. A cada momento, o nome de um estado ganhava destaque em noticiários jornalísticos em qualquer idioma. Wisconsin, Pensilvânia, Arizona, Geórgia.
No mundo da mídia, seja a tradicional ou a nova mídia das plataformas digitais, houve uma sucessão de fatos “remarkables”, notáveis, surpreendentes. Pela primeira vez na história dos EUA, as três maiores emissoras de TV (ABC, CBS e NBC) suspenderam o discurso feito pelo presidente Donald Trump, enquanto ele alegava, sem provas, que a eleição estaria sendo fraudada. O Twitter alertou usuários que o post de Trump sobre sua “vitória fácil” poderia conter desinformação sobre as eleições.
O jornal “New York Times” manteve por dias no alto da primeira página o mapa dos EUA com atualizações em tempo real da apuração dos votos, com milhares de views. A madrugada de quinta (5) para a sexta, 6/11 foi descrita como “uma noite de espera, contagem de votos e protestos”.
A apuração ainda vai ter desdobramentos e prováveis processos judiciais ameaçados por Trump, até que se saiba o resultado final em número de votos e de cadeiras conquistadas no Senado e na Câmara.
Mas uma ironia política fatal já se prenuncia: o slogan “Make America Great Again”, que elegeu Trump em 2016 para a Casa Branca, transforma-se em mera retórica na era trumpista.
E talvez possa se realizar na era Biden.
Jornalista, com larga experiência na cobertura política em Brasília, junto ao Congresso, Governo e Judiciário. Trabalhou nas redações dos jornais O Globo e Estado de S. Paulo como repórter especial e em funções de chefia. Esteve a frente da Diretoria de Treinamentos da In Press Oficina e atualmente está como Diretora de Curadoria e Treinamentos. É, também, professora da disciplina de Relações Públicas e Diplomacia do Instituto Rio Branco, do MRE.
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