As eleições municipais deste domingo, 15 de novembro de 2020, tinham tudo para ser a prova triunfal da eficiência do sistema de urna eletrônica no Brasil, sendo a rapidez na divulgação dos resultados a “bala de prata” para os céticos e críticos do voto eletrônico.
Mas o que se viu foi algo diferente. Encerrada a votação, comentaristas e eleitores já se posicionavam em frente a telonas e telinhas para acompanhar, voto a voto, pisca a pisca, atualizações e análises do pleito.
Logo veio a informação frustrante de que uma falha técnica no sistema do Tribunal Superior Eleitoral tinha prejudicado a totalização dos votos e atrasado a apuração.
Quatro horas depois de encerrada a votação o ministro Luis Roberto Barroso, presidente do TSE, ainda dava explicações, desencontradas e confusas, sobre o que tinha acontecido. Teria sido uma falha técnica, provavelmente porque as eleições de 2020 tinham modificado a forma de apurar os votos. Não foi mais como até 2018, com os 27 TREs computando os votos em seu estado e repassando ao TSE.
Nesta segunda-feira (16), o ministro Barroso mudou a versão e culpou a empresa fornecedora, a Oracle, pelo atraso na demora de equipamentos que teria inviabilizado a realização de testes prévios no sistema. A revelação ligou a pane ocorrida no domingo à falta de testes na pandemia. Além de minimizar o problema, o ministro não garantiu que o segundo turno, no dia 29/11, será livre de falhas.
No dia da eleição, encerrada a votação nas redes as especulações e desinformações se disseminavam numa rapidez inversamente proporcional à apuração. E cresciam críticas irritadas nos tribunais regionais com a decisão de centralizar a apuração. Em lugar da veloz contagem de votos, o que se viu foi uma guerra de versões e desalinhamentos entre os principais porta-vozes da Justiça Eleitoral, que terá impactos relevantes não só na imagem institucional como na própria credibilidade do sistema.
Eleitores, analistas da mídia, candidatos e demais envolvidos no sistema eleitoral ficaram sem saber exatamente o que estava acontecendo. O TSE foi alvo de um ataque denominado negação de serviço (DDoS), “uma operação coordenada” para “desacreditar a Justiça Eleitoral”, segundo investigação da SaferNet, que trabalha em parceria com o Ministério Público Federal no monitoramento de fraudes eleitorais cometidas na internet.
O TSE foi alvo de um ataque denominado negação de serviço (DDoS), “uma operação coordenada” para “desacreditar a Justiça Eleitoral”
Mas o fato é que, mesmo com a mudança no sistema de contagem de votos, agora centralizado no TSE, não havia um plano B. Na entrevista de domingo à noite, o ministro Barroso disse que o ataque foi inócuo e que não era privilégio do Tribunal, pois até instituições como a NASA podem ser alvo de hackers. Ele garantiu que o ataque “foi repelido a tempo e a hora e não se conseguiu entrar no sistema”. O único problema, segundo ele, foi a demora maior na divulgação dos resultados.
Barroso também disse não ter “simpatia” pela iniciativa da centralização, tomada pela gestão anterior no TSE, da ministra Rosa Weber. O ministro lamentou a decisão, cuja motivação teria sido a segurança, como reforçou o vice-presidente da Corte, ministro Edson Fachin.
No sábado, o secretário de Tecnologia da Informação do TSE, Giuseppe Janino, afirmou que com a centralização da apuração no tribunal superior foi possível baixar os custos e reduzir a vulnerabilidade.
Para a reputação da Justiça Eleitoral o custo certamente será alto e haverá mais trabalho para explicar as falhas na apuração de 2020. Barroso, que viajou aos EUA para acompanhar de perto as eleições presidenciais norte-americanas, usou a demora no processamento dos votos para a Casa Branca para reafirmar a eficiência da urna eletrônica.
Agora, a Justiça Eleitoral terá que ser ágil na prestação de contas aos eleitores para não ajudar aos adversários do sistema eletrônico, que insistem em retroceder ao tempo do voto impresso. A comunicação eficiente e boa gestão de crise são bons aliados.
Por Miriam Moura, Diretora de Curadoria e Desenvolvimento de Produtos da In Press Oficina