“Quando americanos perderam a fé nas notícias” é o tema abordado na edição desta semana da prestigiada revista New Yorker. O texto lembra que há 50 anos, a maioria do público dizia que confiava nas notícias. Hoje, a maioria diz que não. “O que aconteceu com o poder da imprensa?”, questiona.
A revista é conhecida pela abordagem analítica e aprofundada de notícias e temas literários. O texto do artigo, assinado por Louis Menand, escritor e colaborador da New Yorker, começa lembrando o slogan criado pelo Washington Post, em fevereiro de 2017, “A democracia morre na escuridão”, e foi alvo de ironias na época, chegando a ser comparado com filme de Batman.
O jornalista afirma que, menos de um mês depois da posse de Trump na Casa Branca, já estava claro que uma das prioridades do governo seria destruir a credibilidade da imprensa. “Isso incluiria uma política descarada e quase alegre de mentir e negar”, escreve.
O “Post” acompanhou as mentiras e calculou que, ao final de seu mandato, o presidente havia mentido 30.573 vezes. Ao assumir o cargo, começou a chamar a mídia de “inimigo do povo americano” e alguns veículos da imprensa foram barrados do briefing da Casa Branca. E tornou-se um padrão responder a histórias que não eram boas para Donald Trump, classificando-as como “notícias falsas”.
Num texto magnificamente escrito, o autor rememora que a desconfiança faz parte da relação imprensa e governantes, mas diz que com Trump tudo isso mudou. “Trump é rude. Cordialidade não é uma característica de sua época”, na qual foi travada uma verdadeira guerra fria com a mídia tradicional. “A imprensa não foi silenciada nos anos Trump, foi desacreditada”, continua o autor da matéria, que pode ser lida na íntegra aqui.
Aos olhos de hoje, o slogan do Washington Post soa profético e global, pois atitudes similares se disseminaram para outras nações. A invasão do Capitólio (e repetições como as manifestações golpistas de 8 de janeiro deste ano aqui no Brasil) comprova a previsão do slogan. A democracia morre na escuridão, e estava em jogo, lá e cá.
Em 1976, depois de Watergate e da guerra do Vietnã, 72% do público americano confiava na mídia. Hoje o número é 34%.
No Brasil, segundo estudo da Reuters Institute, de junho de 2022, a confiança na imprensa supera a média global, atingindo a 48% o percentual de brasileiros que confia nas notícias. A média global é de 42%. No mundo, o país onde o jornalismo ostenta a melhor imagem é a Finlândia, com 69% de credibilidade. Nos Estados Unidos, segundo esse estudo, o percentual é de apenas 26%.