Faltou futuro
Pouco se falou de futuro no debate entre os pré-candidatos tucanos à terceira via. Reunidos pelos jornais O Globo e Valor Econômico na última terça-feira (19/10), os governadores Eduardo Leite (RS) e João Dória (SP) e o ex-senador Artur Virgílio discutiram o passado recente, farpearam-se e, no caso dos governadores, ensaiaram um mea-culpa pelo voto em Bolsonaro.
Mas quase nada disseram sobre como enfrentar os verdadeiros temas atuais: desemprego, crise hídrica, risco de apagão, inflação e juros chegando aos dois dígitos, destruição ambiental, fuga de cérebros, entre tantos outros. Quando muito, tangenciaram a fome crescente e as ameaças constantes à democracia. O problema pode estar no momento em que a discussão se dá.
As prévias partidárias sempre foram uma longa discussão interna, mais afeitas aos partidos de esquerda. Com o racha tucano, o PSDB viu-se diante da necessidade de uma inédita eleição interna para escolher o pré-candidato do partido à presidência da República em 2022. A escolha está marcada para daqui a um mês.
Na busca por um nome da chamada terceira via, veículos de imprensa têm aberto espaço para ajudar os nomes que surgem à direita do ex-presidente Lula e à esquerda do atual, Jair Bolsonaro, a se viabilizar eleitoralmente. O debate entre Dória, Leite e Virgílio deu-se neste contexto.
Há um ano da eleição, os três podem sempre alegar que o programa de governo é tarefa para 2022. Mas podiam pelo menos ter dito o que fizeram ou ainda pretendem fazer sobre temas tão caros aos brasileiros ao longo de seus atuais mandatos – ou no caso de Virgílio, dos oito anos em que esteve à frente da prefeitura de Manaus (2013-2020).
Sem teto
Enquanto os tucanos duelam para ver quem passa para a próxima fase do jogo eleitoral, a da disputa da vaga de terceira via – onde já se acotovelam os ex-ministros Ciro Gomes (PDT), Luiz Henrique Mandetta (DEM), Sérgio Moro (sem partido), entre outros – Lula e Bolsonaro disputam quem dá mais.
Em visita ao Ceará, na quarta-feira (20/10) o presidente da República garantiu que o Auxílio Brasil, o futuro nome do Bolsa Família, será de R$ 400. Lula não passou recibo e defendeu uma ajuda maior, de R$ 600. O ex-presidente disse ainda que não vê problema em Bolsonaro aumentar o valor da bolsa a um ano das eleições. “O povo merece”, disse, em entrevista a uma rádio baiana.
Sem saída

Grande fiador do candidato e, no início, do governo Jair Bolsonaro, o ministro Paulo Guedes foi solenemente ignorado pela realidade. Pressionado pela pandemia, propôs um auxílio emergencial de R$ 200. Acabou desembolsando R$ 600. Não queria manter o abono em 2021, mas o vírus venceu mais uma vez.
Agora, capitulou. Admitiu furar o sacrossanto teto de gastos para dobrar o valor do Bolsa Família. E só não terá de achar dinheiro para o vale-diesel que seu chefe prometeu aos caminhoneiros se deixar o governo nos próximos dias. Nada que aconteça a Guedes será surpresa.
É o pior que pode acontecer a um ministro. Ainda mais a quem chegou a Brasília com três pastas debaixo do braço: Fazenda, Planejamento e Desenvolvimento.
Bolsonaro, tudo indica, fica
Embora a cautela seja o melhor caminho quando se trata de prever decisão da Justiça, é improvável que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) casse a chapa Bolsonaro-Mourão. O julgamento, marcado para a próxima terça-feira, vai decidir se houve ou não crime eleitoral na suposta contratação de serviço de disparos de mensagens em massa pró-Bolsonaro ou contra seus adversários durante a campanha de 2018.
Um eventual impedimento do presidente e seu vice poderia gerar uma instabilidade política desnecessária a um ano das eleições presidenciais. Além disso, se Bolsonaro fosse afastado, estaria aberta uma larga avenida para a terceira via desfilar na oposição a Lula. OTSE seria acusado de meter a mão grande no tabuleiro eleitoral duas vezes.
A Procuradoria-Geral Eleitoral (PGE) recomendou que devem ser julgadas improcedentes as ações de cassação da chapa vitoriosa.
Para ficar de olho na semana que vem
– Na sessão do TSE que vai julgar a chapa Bolsonaro-Mourão.
– Na votação do relatório final da CPI da Pandemia.
– No destino do ministro Paulo Guedes (neste caso, se houver semana que vem)
Para ver no fim de semana

Com a reabertura gradual ou total dos cinemas, uma opção para deixar a política de lado por duas horas é o recém-lançado 007 – Sem tempo para morrer, a despedida do ator Daniel Craig do papel de James Bond. Para muito além do fim de semana, o streaming do canal Telecine tem todos os outros 24 filmes da franquia, desde 007 Contra o Satânico Dr. No, de 1962, com Sean Connery.