
Sempre suspeita de estar por trás das guerrilhas digitais às quais se atribui a vitória de Donald Trump, em 2016, do Brexit, em 2019, e até mesmo de Jair Bolsonaro, em 2018, a Rússia pode ter papel decisivo nas eleições gerais brasileiras, em outubro. Desta vez, às claras. A guerra Rússia x Ucrânia, que desde ontem (24/2) opõe praticamente todo o mundo a Vladimir Putin – menos a China e a Venezuela –, pode elevar a inflação brasileira nos próximos meses ao afetar diretamente o preço dos alimentos e dos combustíveis.
Grandes produtores de commodities agrícolas e de petróleo, Rússia e Ucrânia respondem por quase 30% das exportações mundiais de trigo e 20% das de milho. A Rússia, segundo maior produtor de petróleo do mundo, atrás apenas da Arábia Saudita, envasa 10 milhões de barris por dia – para se ter ideia, a produção diária da Petrobras não chega a 3 milhões. A maior parte desse óleo chega à Europa por tubulação que corta o território ucraniano. O impacto nos preços é inevitável, elevando o custo da proteína animal e do frete de todos os demais produtos.
O impacto pode levar à revisão da política de juros brasileira, que já previa uma redução dos aumentos da Selic. Os bancos já preveem crescimento zero da economia para 2022, o que deve tornar ainda maior o desafio dos brasileiros de conseguir emprego e colocar comida na mesa. O pior cenário para um presidente que tenta a reeleição.
Antes só

De todos os presidentes que estiveram com Vladimir Putin nas últimas semanas, Jair Bolsonaro foi o único a tirar foto apertando a mão do colega russo – a distância do francês Emmanuel Macron, imposta por longa mesa branca, virou até piada nas redes sociais. Longe de ser uma deferência ao brasileiro, Bolsonaro submeteu-se a cinco testes de detecção da Covid-19 para se aproximar de Putin e se disse “solidário” aos russos.
Fez o que pode para ter uma imagem que, no decorrer da campanha à reeleição, desmentisse os adversários que o acusam de estar isolado no mundo. A depender do desenrolar da guerra, pode render mais votos admitir que está só.
O recado de Fachin

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) prepara o terreno para banir o Telegram do Brasil sem ser acusado de atentar contra a liberdade de expressão. A possível medida ganhou força ao final da primeira entrevista que o ministro Edson Fachin deu na quarta-feira (23/02) como presidente da corte eleitoral.
Fachin começou cobrando uma ação do Congresso Nacional para impor limites ao aplicativo de mensagens que está sob suspeita de favorecer a disseminação de mentiras (fake news). “Não havendo pronunciamento legislativo, é possível que o Poder Judiciário seja provocado a se manifestar. Nós estamos examinando, até por cautela e precaução, as experiências existentes em outros países”, disse Fachin.
No final de 2021, o TSE notificou o Telegram por meio eletrônico e por carta para propor uma ação de combate à desinformação, mas segue sem resposta da empresa, com sede em Dubai, nos Emirados Árabes. Pela fala de Fachin, as eleições de outubro não vão ser iguais àquela que passou.
Doria piscou

Dois meses depois de vencer as prévias que fraturaram o PSDB e o apontaram o pré-candidato tucano à Presidência da República, o governador de São Paulo, João Doria, admitiu deixar a disputa. Em palestra a empresários e investidores reunidos por um banco disse que não colocaria “o projeto pessoal” acima dos interesses do Brasil.
“Se chegar lá adiante e, lá adiante, eu tiver de oferecer o meu apoio para que o Brasil não tenha mais essa triste dicotomia do pesadelo de ter Lula e Bolsonaro, eu estarei ao lado daquele ou de quantos forem os que serão capacitados para oferecer uma condição melhor para o Brasil”, disse.
O posicionamento é inédito para quem, até a semana passada buscava a senadora Simone Tebet (MDB) ou até mesmo o ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro (Podemos) para vice na sua chapa. O vacilo de Doria pode ser a pá de cal numa candidatura que não consegue decolar nas pesquisas e ameaça até mesmo a existência do PSDB.