
Há um desconforto no Itamaraty com a condução da política internacional do governo brasileiro na guerra liderada pela Rússia contra a Ucrânia. A preocupação com o resgate de brasileiros, os impactos econômicos e, além do mais, a pressão sobre embaixadores do Brasil pelo mundo, levou a uma espécie de condução paralela da crise.
As falas do presidente Jair Bolsonaro que sugerem um apoio a Vladimir Putin são tratadas como questões meramente políticas e recebem um carimbo como sendo questões aos cuidados do chanceler Carlos França.
A atuação diplomática é tratada como política de Estado em respeito às normas, tratados e legislações internacionais. Foi assim que prevaleceu a posição do Brasil, junto a 140 países, à favor da resolução da ONU condenando os ataques russos à Ucrânia.
No Palácio do Planalto havia defensores da manutenção da posição “neutra”. Acionado, o ministro das Relações Exteriores recorreu a eufemismo como “equilíbrio” e posição equidistante”. Parece ter agradado.
Mas a alternativa equilibrista permitiu que, por enquanto, nada de apoio brasileiro à investigação no Tribunal de Haia sobre crimes de guerra. Houve também quem citasse o constrangimento na participação da ministra Damares Alves na 49ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, avaliada como um discurso adequado apenas para palanque eleitoral.
Alheios aos desígnios presidenciais, embaixadores estão arregaçando as mangas. A assistência consular aos brasileiros em países de fronteira com a Ucrânia foi reforçada. E a representação diplomática foi transferida para a Moldávia para facilitar emissão de documentos. As operações de retirada de brasileiros da área de conflito – que enfrentavam resistências – vão começar na próxima semana.
A intenção é que, quando a guerra acabar, a diplomacia brasileira não seja espelho da Ucrânia e precise de uma reconstrução completa.
Janela de oportunidades

É hora de os parlamentares decidirem por qual partido disputar as eleições em outubro. A chamada janela partidária está aberta desde ontem e assim ficará até 1º de abril. Durante o mês, o político filiado a um partido pode trocar de sigla sem qualquer tipo de punição, como perda do mandato, por exemplo.
O União Brasil, fusão do PSL com o DEM que nasceu rico e numeroso, com 81 deputados, deve sofrer até 30 baixas. É que a ala bolsonarista do extinto PSL deve migrar para o PL e o PP. O PL quer aproveitar justamente a presença do presidente para atrair pelo menos 28 novos nomes para a bancada onde estão 43 parlamentares.
A legenda vai fazer festa na próxima terça-feira (8/3) para marcar a filiação do ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes., candidato a deputado federal por São Paulo. O astronauta é considerado um puxador de votos. O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello é outro que negocia com o PL.
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, do antigo DEM, cotada para vice de Bolsonaro, vai para o PP. Leva com ela o ministro das Comunicações, Fábio Faria, que deixa o PSD. Os dois são deputados licenciados e reassumem seus mandatos no Congresso no fim do mês. A trinca PL, PP e Republicanos será a base de apoio bolsonarista.
Mesmo antes da janela partidária, 39 deputados deixaram a legenda pela qual se elegeram em 2018. A composição das bancadas é fundamental porque é o número de deputados federais eleitos (não entram na conta as trocas partidárias) que define os recursos na distribuição do fundo partidário o tempo de rádio e televisão. Quem tem mais, obviamente, leva mais.
Hora H

O prazo é 31 de maio, mas março se torna o mês decisivo para as federações partidárias deslancharem. O União Brasil deve reunir forças para formar a bancada de pelo menos 70 deputados federais a partir de 2023, objetivo que o afasta do acordo para fazer alianças pelos próximos 4 anos com outros partidos. A palavra final vai ser da Executiva da legenda recém-criada, que inclusive quer discutir a possibilidade de uma candidatura própria. Mas tudo indica que não vai passar disso, uma possibilidade.
PSDB e MDB até abriram diálogo. Mas após os caciques avaliarem os mapas de cada estado e municípios e apresentar pós e contras, o MDB decidiu dizer não para qualquer tipo de federalização.
Agora, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, vai liderar dois processos: validar a federalização já aprovada pelo Cidadania; e minar a saída do governador gaúcho Eduardo Leite do partido com destino ao PSD para ser presidenciável – movimento em curso e já praticamente sem volta.
À esquerda, o imbróglio entre PT e PSB avança com a preferência pelo petista Fernando Haddad para concorrer ao governo de São Paulo. Com pior desempenho nas pesquisas, Márcio França (PSB) se isolou, sobretudo depois do apoio do PCdoB a Haddad. As conversas continuam, mas a definição deve ficar mesmo para o fim do prazo. Lula também aguarda para este mês a definição do partido ao qual Geraldo Alckmin se filiará para ser o vice na chapa presidencial.
O PDT de Ciro Gomes decidiu não se coligar a ninguém. Após ouvir um não de Marina Silva (Rede), a quem foi oferecida a vaga de vice, o partido seguirá sozinho para as urnas.
Pacote de bondades

A conta-gotas, o governo pretende lançar medidas de incentivos à economia que somam R$ 150 bilhões este ano. O pacote de bondades é um gesto de apoio ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que vem sofrendo fritura por parte do Centrão e perdendo influência no governo para o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. E claro, uma tentativa de impulsionar os números da economia no ano em que Jair Bolsonaro vai buscar a reeleição.
A ideia do Palácio do Planalto é fazer anúncios diários de novidades. A mais popular será o que permitirá saques do FGTS de até R$ 1.000 por pessoa. A projeção do governo é que 30 milhões de pessoas aproveitem o benefício para o pagamento de dívidas e consumo, aumentando a atividade econômica. Essa medida se soma à redução de 25% no Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI), anunciada na semana passada, que pode levar à redução de preços de carros, calçados e alimentos nos próximos meses.
O pacote tem ainda a isenção tributária para estrangeiros que comprem título de empresas brasileiras, a retomada do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) e o Programa Emergencial de Acesso a Crédito (PEAC), de socorro às empresas, lançados na pandemia, além de um programa de aquisição de crédito de carbono.