
Antes relativizada, a crise entre os poderes tornou-se preocupação real. Saíram as notas de repúdio e os presidentes do Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal, Tribunal Superior Eleitoral, Superior Tribunal Militar e o ministro da Defesa abriram espaço nas agendas para reuniões em que, ao final, reafirmaram o que parecia óbvio: a defesa da democracia. Em condições normais, nem precisava. O cenário de “anomalia institucional” – definição do ministro Roberto Barroso – tem sido alimentado por questionamentos sobre o processo eleitoral, desvirtuamento das funções das Forças Armadas e desrespeito às decisões judiciais.
O presidente Jair Bolsonaro, a despeito de tentar levar os fiéis seguidores a votarem pela sua reeleição, constrói um discurso de que a Justiça Eleitoral é parcial e estaria em defesa dos interesses do seu principal adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Bolsonaro, inclusive, fez o TSE recuar da ideia de convidar observadores da União Europeia para acompanhar as eleições de outubro. Além disso, reafirma, sem provar, que as urnas eletrônicas são falhas e que, se possível, usará militares para fazer a recontagem de votos, o que seria, além de ilegal, impossível. As Forças Armadas, por sinal, acionaram 88 vezes o TSE para, alinhadas ao discurso bolsonarista, questionar vulnerabilidades nas urnas – algo inédito.
O ambiente tornou-se mais nebuloso após a graça constitucional concedida por Bolsonaro a Daniel Silveira (PTB/RJ), um dia após o deputado ter sido condenado pelo STF a 8 anos e 9 meses de prisão por crimes de ofensa contra ministros da Corte. O parlamentar foi multado em R$ 405 mil por ter participado de atos públicos e parado de usar tornozeleira eletrônica, como previa a decisão judicial. Mesmo assim, seguiu afrontando ao Judiciário e disse que o perdão concedido por Bolsonaro tornou-o totalmente inocente. A postura, aliás, é respaldada por deputados bolsonaristas. Neste ensejo, até o ministro André Mendonça, indicado ao STF por Bolsonaro, apresentou explicações ao presidente sobre o voto proferido em desfavor a Daniel Silveira, posição que contraria a independência do cargo.
Até o momento, a defesa da democracia não foi além do discurso.
Nova terceira via

A terceira via que se tenta viabilizar há um ano para enfrentar a polarização Bolsonaro (PL) e Lula (PT) implodiu. O lançamento de uma candidatura própria do União Brasil, que colocou Luciano Bivar na condição de presidenciável, deixou o grupo formado por PSDB, MDB e Cidadania não só sem os R$ 900 milhões do fundo eleitoral e o tempo precioso de TV, como sem rumo. A tendência é a de que agora seja cada um por si.
Simone Tebet (MDB) e João Doria (PSDB) trabalham agora por um palanque próprio, mas há desconfiança sobre o desempenho eleitoral. Hábil, Bivar acena para a senadora Soraya Thronicke (União/MS) ocupar a função de vice, escanteando de vez o ex-juiz Sérgio Moro da disputa. Mas pode deixar a vaga também para alguém do antigo Centro Democrático e a preferência será por Tasso Jereissati (PSDB/CE).
Prova da falta de rumo, há um quarto cenário sendo construído. Ciro Gomes (PDT), terceiro colocado nas pesquisas, abriu um relacionamento sério com o PSD. A composição é articulada pelo presidente do partido, Gilberto Kassab, ainda receoso de compor o palanque com Lula no primeiro turno, como é o desejo de uma considerável ala do partido. A ideia de Kassab é que, dando musculatura a Ciro e havendo reflexos eleitorais significativos, não haveria argumentos para União Brasil, PSDB e MDB manterem candidaturas próprias.
Frente a frente

Os candidatos à Presidência da República têm nove encontros marcados para debater as propostas na TV. Foram definidas esta semana as datas dos debates presidenciais.
Quem chegar ao segundo turno ainda terá que enfrentar seis debates.eições com produtos como pesquisas eleitorais, análises setoriais e produção de conteúdo exclusivo para os clientes.
Vale lembrar que a participação nos debates é facultativa e cada organização define os critérios para escolher os debatedores. Nas eleições de 2018, Jair Bolsonaro participou apenas de debate no primeiro turno. Acompanhe abaixo as datas:
1º TURNO
6 de agosto – CNN
9 de agosto – Jovem Pan
14 de agosto – Band
2 de setembro – Rede TV
8 de setembro – O Globo, Valor e CBN
13 de setembro – TV Aparecida
22 de setembro – Folha e UOL
24 de setembro – SBT, O Estado de S. Paulo, Veja e Rádio Nova Brasil FM
29 de setembro – TV Globo
2º TURNO
3 de outubro – CNN
4 de outubro – Band
11 de outubro – Jovem Pan
13 de outubro – Folha e UOL
22 de outubro – SBT, O Estado de S. Paulo, Veja e Rádio Nova Brasil FM
28 de outubro – TV Globo
Fala racista

O vereador Camilo Cristófaro recorreu a uma frase racista para criticar uma calçada mal arrumada: “Eles arrumaram e não lavaram a calçada. É coisa de preto, né?”. Só não sabia que o áudio estava aberto durante a sessão da Câmara Municipal de São Paulo. A primeira providência foi negar que a fala era dele. Depois disse que estava fora de contexto e que se referia a um carro. Depois veio um pedido de desculpas pouco convicto. “Venho de uma geração onde as piadinhas eram normais e preciso passar por uma desconstrução desses preconceitos”, tentou se justificar.
O episódio levou à expulsão dele do PSB e a um pedido de investigação criminal na Justiça. A Corregedoria da Câmara também deve receber uma denúncia que pode levar à cassação do mandato. O caso provocou tanta indignação que deve ter tratamento urgente na Casa. O processo pode ser levado para plenário no dia 19 e, se aceito, abre-se prazo de 90 dias para a apresentação da defesa. Percorridos os trâmites normais, Cristófaro corre o risco de perder o mandato e os direitos políticos antes das eleições de outubro, quando pretende disputar uma vaga na Câmara dos Deputados.