
Reminiscências coloniais marcaram a semana política que se encerra nesta sexta-feira. Começaram com os preparativos das comemorações do 7 de setembro, data escolhida para marcar os 200 anos da Independência do Brasil de Portugal. E encerram-se sob a comoção da troca do ocupante do trono do antigo Império britânico, que continua brilhando no imaginário popular. Os dois fatos se cruzaram na política brasileira, pois a enxurrada de notícias sobre a morte da Rainha Elizabeth acabou interferindo nos esforços do presidente da República, Jair Bolsonaro, em sua corrida pela reeleição.
Bicentenário no Congresso Nacional

O principal evento de caráter incontestavelmente institucional de comemoração do bicentenário da Independência acabou sendo realizado pelo Congresso Nacional, em 8/9. O evento contou com a participação do presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Souza, e dos chefes de Poderes que não compareceram aos eventos liderados por Bolsonaro, diante do caráter que eles estavam assumindo:
os presidentes do Senado (e Congresso), Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux. Também compareceu o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Bolsonaro foi convidado, mas não compareceu.
Alvo atingido
Bolsonaro atingiu seu objetivo secundário, de realizar demonstrações de massa no 7 de setembro que mostrassem a disposição de seus eleitores. Até para questionar resultados negativos nas urnas, pois as multidões, nessa lógica, contrariariam as pesquisas e até mesmo resultados de urnas eletrônicas. Quanto ao objetivo principal do 7 de setembro, que é conquistar novos votos, só as próximas semanas mostrarão se a missão foi bem-sucedida ou não. A pesquisa Datafolha desta sexta-feira deverá demonstrar os primeiros impactos que possam ter ocorrido em torno do 7 de setembro. Mas somente os levantamentos da próxima semana deverão refletir as reverberações dos fatos desta semana na propaganda eleitoral e na mídia, que teve sua rotina profundamente alterada pela morte da Rainha Elizabeth II, do Reino Unido.
Avalanche na rede
Bolsonaro conseguiu grande espaço na mídia convencional e nas mídias sociais, com os eventos do 7 de setembro em Brasília e no Rio de Janeiro. Esperava-se que o impulso nas redes se mantivesse pelos próximos dias, emendando com outras iniciativas que viessem na sequência organizadas por suas equipes de campanha. Mas, como constatou o colunista do UOL José Roberto Toledo, na quinta-feira já havia posts sobre a rainha no twitter tendo mais destaque que o post mais bem sucedido de Bolsonaro em 7 de setembro. O efeito não durou 24 horas.
Sem castigo
Foi praticamente unânime a avaliação de políticos, juristas, jornalista e outros analistas não governistas de que o presidente Jair Bolsonaro infringiu a lei ao aproveitar as estruturas dos festejos do bicentenário da Independência em Brasília e no Rio de janeiro para turbinar seus dois comícios eleitorais. Por um lado, comemorou-se o fato de não ter havido violência física nos atos bolsonaristas, nem xingamentos a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) ou ameaças de invasão do prédio da Corte suprema, a exemplo do que ocorreu em 2021.
Por outro lado, houve imensa indignação e preocupação com a violência não física praticada pelo presidente, que antes dos atos declarou que 1964 pode se repetir, “o bom sempre vence o mau”. Já nos atos, disse que tem que se “extirpar” pessoas como Lula da vida pública. Diversos partidos ingressaram no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra Bolsonaro por abuso de poder, ao usar indiretamente a estrutura oficial para atrair seu público dos comícios. Mas não se espera nenhuma decisão do tribunal contra a chapa de Bolsonaro, pelas consequências que poderia ter, inclusive violência política. No máximo, prevê-se que pode ser restringido o uso de imagens dos atos na propaganda eleitoral.
Ainda sobre o 7 de setembro
Com a proximidade das eleições, e o tensionamento das relações entre os Três Poderes, o feriado de 7 de Setembro trouxe significados para além da comemoração de 200 anos de Independência do Brasil.
Os times de Relacionamento com o Poder Público, Reputação e Relacionamento, Digital Business e Inteligência de Mercado se uniram na produção do e-book 7 de Setembro: Brasil em compasso de espera, que apresentou as expectativas da Oficina Consultoria sobre o feriado e quais os possíveis impactos do evento para o cenário político brasileiro.
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Violência eleitoral
Um novo crime por motivação eleitoral ocorreu nesta quinta-feira (8/9), no município de Confresa (MS), quando um apoiador de Bolsonaro matou a facadas um apoiador de Lula. O assassino, Rafael Silva de Oliveira, 24 anos, confessou ter matado seu colega Benedito Cardoso dos Santos, 44, durante uma discussão sobre os candidatos. O assunto pode ter impacto nas campanhas.