
Um mês após os atentados golpistas em Brasília (DF), as autoridades ainda buscam respostas para compreender as ações que desencadearam a invasão e depredação da sede dos três poderes. A Operação Lesa Pátria, da Polícia Federal, busca investigar os bolsonaristas envolvidos nos atos e indiciá-los.
Diversos desdobramentos ocorreram desde o evento, em que o governador do Distrito Federal Ibaneis Rocha (MDB) foi afastado, o ex-secretário de Segurança Pública e ex-ministro da Justiça, Anderson Torres foi preso, juntamente com comandantes, policiais e mais de mil manifestantes que estavam ligados aos protestos, às depredações ou financiando os atos de algum modo.
Foram levantadas hipóteses de omissão e negligência de autoridades. Mensagens de texto divulgadas esta semana, periciadas do celular do governador afastado Ibaneis Rocha, demonstram a passividade e tranquilidade perante os fatos, que ao longo das horas geraram preocupação. De “tudo bem” para “acionar o exército”, refletem que a gravidade foi desconsiderada e os manifestantes subestimados, mesmo após bolsonaristas serem presos em Brasília tentando explodir uma bomba às vésperas do Natal.
Existe ainda um inquérito que investiga a possível influência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que embarcou para os Estados Unidos em dezembro e ainda não retornou. Pessoas próximas ao ministro Alexandre de Moraes, que conduz os inquéritos, e membros de órgãos ligados às investigações, como o Ministério da Justiça, dizem que o papel de Bolsonaro precisa ser esclarecido.
Retorno das sessões presenciais

Nesta terça-feira (07), a Comissão Diretora do Senado reuniu-se para as primeiras deliberações da 57ª Legislatura. Os parlamentares aprovaram uma alteração nas hipóteses de participação remota dos senadores nas sessões e reuniões da Casa, bem como na votação por meio do Sistema de Deliberação Remota (SDR), utilizado desde o início da pandemia de Covid-19. As mudanças foram compartilhadas com os senadores pelo presidente Rodrigo Pacheco (PSD/MG), nesta quarta-feira (08), durante a primeira sessão desde a posse dos congressistas.
As novas regras determinam que o SDR só poderá ser utilizado em sessões especiais ou de debates temáticos, desde que previamente autorizado pelo presidente do Senado ou do Plenário. Já nas comissões, o sistema remoto poderá ser utilizado em audiências públicas e arguições de autoridades, mediante determinação de seu presidente. Nas demais atividades legislativas, os parlamentares podem utilizar o SDR para registrar seus votos, contanto que tenham registrado suas presenças presencialmente no Senado.
Várias versões

O Senador Marcos do Val (Podemos/ES) apresentou pelos menos quatro versões a respeito de uma suposta reunião que o parlamentar teve com o ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB/RJ) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), na tentativa sem sucesso para um golpe de Estado. O senador abriu uma transmissão ao vivo em suas redes sociais e disse que teria sido coagido por Bolsonaro para gravar o ministro do STF, Alexandre de Moraes, e incriminá-lo na invalidação do resultado das eleições de 2022.
Em outra transmissão ao vivo, o senador salientou que sairia uma “bomba” revelada pela Revista Veja, e baixou o tom das acusações contra o ex-presidente Bolsonaro. Em outro portal de notícia, Do Val falou que nunca foi coagido pelo ex-presidente.
Inicialmente, Do Val disse que a reunião teria ocorrido no Palácio da Alvorada. Posteriormente, o parlamentar afirmou que a reunião teria ocorrido na Granja do Torto, a segunda residência oficial da Presidência da República. Em outro veículo de comunicação, o senador disse que teria ocorrido no Palácio do Jaburu, a sede oficial da vice-presidência.
A Polícia Federal (PF) fez uma oitiva com o senador para confrontá-lo referente às informações dadas para os veículos de comunicação e a sua rede social própria na tentativa frustrada de um golpe de Estado, a qual durou mais de 4 horas. Do Val será investigado pelo cometimento dos crimes de falso testemunho, denunciação caluniosa e coação no curso do processo.
Alinhamento de Lula e Biden acontece esta semana

Como estava previsto desde antes da posse do presidente do Brasil, Lula (PT) tem um encontro marcado com o presidente dos Estados Unidos Joe Biden. A visita oficial do petista ao gabinete de Biden acontece nesta sexta-feira (10/02) e Lula já está no país norte-americano. O Conselheiro de Segurança Nacional de Biden, Jake Sullivan, chegou a vir ao Brasil ainda em dezembro para trazer o convite para a visita na Casa Branca, mas as circunstâncias da transição e o interesse de Lula de ir ao Egito para participar da Cúpula do Clima das Nações Unidas inviabilizaram a ida a Washington. Para os Estados Unidos, o alinhamento entre os dois governos é uma forma de fortalecimento diplomático entre duas nações que viveram algo parecido. Nas eleições de 2020, quando Donald Trump perdeu nas urnas para Biden e contestou o resultado das eleições, apoiadores de Trump invadiram o Capitólio na tentativa de iniciar um golpe de estado. O mesmo aconteceu após a eleição de Lula, apenas dois anos depois, quando apoiadores de Bolsonaro contestaram o resultado das urnas.
Para além de questões políticas, o presidente do Brasil deve tratar de cooperação internacional e negociações com Biden. A relação do país com Biden se estremeceu após as eleições do democrata norte-americano, pois Bolsonaro não concordava com a sua forma de governo. O Brasil ainda possui relações que devem ser grandes apostas do governo Lula, como China e Rússia, que vão exigir um ponto de consenso entre Lula e Biden. Para a conversa de hoje, Lula deve identificar quais são os interesses nacionais e qual política externa ele pretende manter na relação entre Brasil e Estados Unidos.