
Não há mais reservas. Embora a lei eleitoral só permita campanhas a partir de 15 de agosto, os presidenciáveis estão à caça de votos sem disfarces. Líder nas pesquisas e trabalhando pela vitória em primeiro turno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) faz o discurso voltado aos feitos de oito anos no governo. “Os outros candidatos vão ter que teorizar. Eu não. Eu vou dizer ‘eu já fiz e vou fazer outra vez'”, afirmou. O PT terá um programa de governo voltado para a geração de emprego e recuperação econômica.
Vice-líder nas intenções de voto, Jair Bolsonaro (PL) quer aproveitar a máquina do governo em prol da reeleição e trará um plano com 200 diretrizes, entre as quais, propagar o Auxílio Brasil como “o maior programa de renda do mundo”. Além disso, a viagem ao Nordeste esta semana faz parte da estratégia de aproximação com a população mais simpática a Lula. “Tem gente que tem saudades desses canalhas, não é só o povo nordestino que sofre, é gente de todo o Brasil”, atacou, antes de promover uma “jeguiata” em Jucurutu (RN).
Sérgio Moro (Podemos) também andou pelo Nordeste, com as mesmas intenções do presidente, mas mirando o público evangélico. Em carta aberta, divulgada no Ceará, o ex-juiz defendeu a lei contra aborto e a imunidade tributária de igrejas. Agora, vai ao Congresso Nacional fazer um corpo a corpo com parlamentares pelo fim do foro privilegiado.
Ciro Gomes (PDT) é o que está há mais tempo na estrada e, além do ataque aos adversários e do slogan que o intitula “rebelde”, tenta repaginar a imagem. Criticado por ter linguagem técnica e rebuscada, o pedetista virou o “Ciro Gamer”. Além dos cenários inspirados em youtubers – como Casimiro, fenômeno entre os streamings -, o candidato tem abusado da lives e reacts (comentários espontâneos sobre vídeos). No campo das propostas, vem reforçando ações de economia, mas tem levantado ideias como garantir a reforma de moradias populares e distribuir escrituras.
O Ministério Público Eleitoral promete atenção a exageros, mas, por enquanto, não viu nada.
Ninho da discórdia

Estacionado em 4% das intenções de voto, o governador de São Paulo, João Doria, tem sido pressionado por alas do próprio PSDB a desistir da candidatura presidencial. Até abril, porém, o governador de São Paulo promete não se incomodar. Acredita que a propaganda eleitoral será um diferencial que projetará seu nome para a primeira meta: atingir 10% da preferência do eleitor, sobretudo com o papel de “pai da vacina” contra a Covid-19.
A leitura dentro do partido é outra: como não decola nas pesquisas, Doria é um desgaste geral para os candidatos do PSDB. Por isso, os tucanos veteranos – os cabeças brancas – já se mobilizam com um aceno ao MDB. Acreditam que a senadora Simone Tebet tem mais chances de crescimento e negociam uma federação. Caso Tebet se viabilize, o grupo acredita que poderia, inclusive, despertar o interesse do União Brasil (a fusão PSL com o DEM), o maior e mais rico partido do país.
O PSD assiste a tudo de camarote e vai deixar os movimentos no tabuleiro para a última rodada. O partido de Gilberto Kassab conversa com Lula, que busca a vitória em primeiro turno, pode filiar Geraldo Alckmin, vice preferido do petista, ou pode fazer uma outra jogada: atrair o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que perdeu as prévias do PSDB para Doria. Uma chapa Tebet-Leite ou Leite-Tebet é vista como a “verdadeira terceira via” contra a polarização atual entre Lula e Bolsonaro.
Doria, neste caso, faria um voo solo porque ninguém aposta em desistência no entorno do governador.
Guedes na berlinda

O ministro Paulo Guedes, o Posto Ipiranga, dá sinais de desabastecimento, sobretudo de argumentos. Contrariando sua orientação, aliados do presidente Jair Bolsonaro encamparam a PEC dos Combustíveis, que propõe reduzir impostos do diesel, biodiesel, gás e energia elétrica entre 2022 e 2023. Caminhoneiros autônomos teriam direito a um auxílio de R$ 1,2 mil por mês. O custo da proposta, que a equipe econômica chamou de “camicase”, ultrapassa os R$ 100 bilhões.
O triunvirato pró-PEC é formado pelo senador Carlos Fávaro (PSD/MT), autor da proposta, o senador Flávio Bolsonaro (PL/RJ), o filho 01, e o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira. No cálculo político, mais gastos mais votos. Mas o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, entrou em cena e destacou que o populismo fiscal, além de ter impacto futuro, pode descontrolar a inflação no curto prazo. Preços mais altos, menos compras, sobretudo das camadas mais pobres. Há uma sinalização que o corte no custo do Diesel possa vir por projeto de lei, o que não significa uma vitória do chefe da economia.
Guedes vem sofrendo desgaste constantes. Por não aplicar a política econômica liberal prometida na campanha já perdeu em torno de 15 auxiliares. Mais recentemente, perdeu poder e viu Ciro Nogueira tomar as rédeas sobre a distribuição do Orçamento. Guedes tentou reagir e prometeu divulgar no Portal da Transparência os nomes e padrinhos políticos dos cargos públicos. Provocou ainda mais insatisfação da ala política.
O ministro descarta pedir demissão enquanto os mais próximos ao presidente já coletam currículos para encontrar um novo ministro da Economia em caso de reeleição. O Centrão tem sugerido nomes.
Embaraço diplomático

Mesmo desaconselhado por experientes diplomatas, o presidente Jair Bolsonaro embarca nesta segunda-feira (14/02) para um encontro com o presidente russo, Vladimir Putin, em Moscou. Em meio às ameaças da Rússia de invadir a Ucrânia, Bolsonaro faz questão da reunião marcada para quarta-feira (16/02).
Na pauta, discussões sobre energia, fertilizantes e defesa. No Itamaraty, a viagem é tida como negativa para a relação com os Estados Unidos. O Palácio do Planalto, por sua vez, acredita que pode abrir diálogo com o presidente americano Joe Biden. Há um temor que a viagem atrapalhe a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Bolsonaro também terá reunião com a Duma (Legislativo local) e com empresários.
A delegação brasileira – formada pelo presidente e mais seis ministros: Anderson Torres (Justiça), Augusto Heleno (GSI), Braga Netto (Defesa), Carlos França (Relações Exteriores), Paulo Guedes (Economia) e Teresa Cristina (Agricultura) – terá que apresentar teste negativo de Covid-19 em russo e ser submetida a dois testes por lá. A vacinação não vai ser exigida.
A preocupação deve-se ao histórico de incidentes diplomáticos recentes relacionados à pandemia. Em março de 2020, brasileiros testaram positivo após encontro com o então presidente americano Donald Trump; em setembro do ano passado, o ministro Marcelo Queiroga (Saúde) testou positivo depois de acompanhar o presidente à Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York.
Na quinta-feira (17/02), Bolsonaro vai a Budapeste para um encontro com o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, líder ultranacionalista e referência para a direita radical brasileira.
Discussão chocante

A prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro (PSDB), foi chamada de “fujona” pela presidente da Câmara Municipal, Janad Valcari (Podemos), ao se ausentar da sessão de abertura do Ano Legislativo, na terça-feira (08/02), para amamentar o filho de dois meses. A vereadora – que, aliás, também tem um filho – acusou a prefeita de atrasar o debate sobre a construção da sede própria do parlamento, que funciona num prédio alugado.
Cinthia abriu mão da licença-maternidade para continuar no cargo, o que Janad atribuiu à falta de confiança no seu grupo político e usou a amamentação como desculpa para “não ouvir a verdade”. “A prefeita fala balela e sai”, provocou. Mais tarde, com o filho alimentado, a prefeita reagiu: “Amamentar é um direito sagrado. Espernear também. A pessoa que não entende isso nasceu de chocadeira, só pode”, reagiu.