Campeã de audiência
É tempo de CPI. Hora de monitorar e entender as mudanças que a investigação trará para o ambiente político-midiático. Comissões Parlamentares de Inquérito costumam ser palco para que os deputados e senadores mostrem a que vieram.
Expostos, diante das câmeras de TV, muitas vezes com teatralidade, eles discursam, fazem perguntas, exigem respostas, sacodem-se nas cadeiras. Para bons observadores, nada como uma CPI para decifrar o momento político em suas nuances e revelar quem é quem.
Os ouvidos afinados dos analistas políticos vão captando laços e alianças, conexões, articulações e, naturalmente, tropeços e desencontros. Mas, anote aí, se antes CPIs pareciam palatáveis somente para cientistas políticos, jornalistas e profissionais de Relações Institucionais e Governamentais, hoje, elas alimentam o grande público. O combate ao coronavírus obrigou ao uso da máscara, mudou a etiqueta social, transformou a economia e, agora, desperta a consciência política.
Tanto é assim que a CPI da Pandemia é, hoje, um sucesso de público. Além de ser o assunto mais comentado das redes sociais durante os depoimentos de autoridades, entre terça e quinta-feira, as oitivas transmitidas ao vivo têm aumentado o interesse na TV Senado e no canal da Casa Legislativa no YouTube. Essa audiência é potencializada pelos canais a cabo (BandNews, CNN, Globonews, Record News) que retransmitem o sinal da TV pública.
Sintonia fina
De acordo com o site Notícias da TV, especializado na indústria do audiovisual, 3,5 milhões de espectadores sintonizaram a Globonews desde o primeiro depoimento, no dia 4 de maio. O pico de audiência, com 1,5 milhão de pessoas, foi justamente a sabatina do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Na página do YouTube da TV Senado, foi a arguição do ex-secretário de Comunicação de Jair Bolsonaro, Fábio Wajngarten, no último dia 12, que gerou mais interesse. Em uma semana o vídeo teve 642 mil visualizações.
PC Farias
As várias possibilidades de acompanhamento e influência na CPI têm feito toda a diferença, 30 anos depois da CPI do PC, cujas revelações inflamaram o Brasil nos anos 1990 e todo mundo sabe como terminou. Como hoje, os depoimentos eram o auge do noticiário noturno da TV. No dia seguinte, os bastidores e novas denúncias preenchiam as páginas dos jornais impressos. As edições das revistas semanais derrubavam ministros e pautavam as sessões seguintes da Comissão.
Camarote nas redes sociais
Hoje, além dos veículos tradicionais, a CPI da Pandemia mobiliza o Brasil nas redes sociais. Por estas páginas e perfis os brasileiros não apenas acompanham as sabatinas como podem influenciá-las, pressionar os parlamentares com comentários, municiá-los com sugestões de perguntas e até mesmo áudios e vídeos para constranger depoentes, desmentindo ou reforçando as versões de quem se senta diante dos senadores.
Dezenas de endereços virtuais comentam, discutem, sugerem caminhos, condenam e absolvem quem investiga e quem é investigado. Um exemplo é a página Camarote da CPI, que faz um convite aos seus 37,7 mil seguidores: “Pega a pipoca e vem acompanhar a CPI da Pandemia com a gente”. Ao transformar a sessão política em um show, o perfil termina por reforçar o caráter teatral que senadoras e senadores emprestam à Comissão.
CPI com pipoca
Com 199,2 mil seguidores, o perfil @Jairmearrependi criou o CPIPalooza, um calendário com dia e hora dos depoimentos, atualizado a cada vez que os senadores aprovam novas convocações. A publicação imita a agenda de shows do festival de música Lolapalooza.
Investigação no ambiente político
- Os integrantes de CPIs têm poder de polícia: podem dar voz de prisão, determinar a quebra de sigilos fiscal, bancário, telefônico e de dados.
- Assim como ocorre em depoimentos à Polícia ou ao Ministério Público, quem fala na condição de testemunha é obrigado a dizer a verdade.
- Quem senta diante dos parlamentares na condição de investigado pode calar-se ou até mentir para não produzir provas contra si mesmo.
- Mas ao contrário de investigações policiais e julgamentos judiciais, CPIs também têm caráter político. A condenação ou absolvição de alguém não depende apenas de provas materiais. Isso explica em parte o afastamento seguido da renúncia do ex-presidente da República Fernando Collor na esteira da CPI do PC e sua posterior absolvição nos tribunais.
- As redes sociais trouxeram ainda mais rapidez às investigações e aos julgamentos sumários. Ao contrário dos veículos de comunicação tradicionais, os perfis da internet têm lado declarado. Ser imparcial não está em discussão.
- Por isso mesmo, o vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), não hesitou em pedir a colaboração dos seguidores do perfil Tesoureiros do Jair, crítico ao presidente Jair Bolsonaro. “Mandem perguntas para nós… muitas perguntas que eu tenho feito têm chegado pelas redes sociais”, admitiu em entrevista ao perfil que tem quase 90 mil seguidores (Veja vídeo: https://twitter.com/i/status/1392252843978072066).
Política nas redes… Uma dica? Monitore!
O monitoramento do mundo virtual é cada vez mais necessário também para conhecer as narrativas que vão sendo construídas a cada depoimento.
O próprio presidente Bolsonaro se encarrega de sua defesa. Na última quarta-feira, enquanto o ex-secretário de Comunicação Social Fabio Wajngarten contava aos senadores sobre a demora do governo em responder a um ofício do laboratório Pfizer com oferta de vacinas, o perfil do presidente publicava o “vacinômetro” com a atualização diária do número de doses de vacinas distribuídas pelo governo federal.
Já tarde da noite, o perfil de Bolsonaro atacou o senador Renan Calheiros, que por duas vezes pedira a prisão de Wajngarten: “Com mais de 10 inquéritos no STF, Renan tem moral para querer prender alguém?”
Haja pipoca para acompanhar a CPI que deve mobilizar o país pelos próximos meses.
Herdeiros de Vinícius
Os herdeiros de Vinícius de Moraes receberão R$ 3,4 milhões da União como reparação por danos morais e materiais impostos ao poeta e diplomata pela ditadura militar (1964-1985). A sentença da Justiça Federal — publicada em abril e tornada pública na semana passada — se seguiu ao acordo judicial que encerrou um processo iniciado em 1994 por três de seus cinco filhos, sob a alegação de que sua aposentadoria compulsória do Itamaraty em 1969, logo depois da decretação do AI-5, foi política.
O valor da indenização foi definido com base na remuneração que Vinícius deixou de receber pelo afastamento da carreira diplomática. Como o pagamento será feito por precatório, é possível que ainda demore pelo menos mais um ano para que seja efetivamente paga. Só então terá chegado ao fim o processo de resgate da imagem do poeta nos arquivos do serviço público brasileiro, iniciado em 1998, quando a Justiça Federal o anistiou.
Em 2006, Vinícius foi simbolicamente reintegrado ao corpo diplomático brasileiro e em 2010 a Câmara dos Deputados aprovou sua promoção póstuma ao cargo de “ministro de primeira classe” do Ministério das Relações Exteriores, o mais alto da carreira, equivalente a embaixador.
Bossa Nova e Afrossamba
A reparação pública, no entanto, jamais foi necessária. O talento de Vinícius, sua condição de pai da Bossa Nova e do Afrossamba, a maestria de suas letras e textos teatrais jamais estiveram em discussão. A obra completa do Poetinha — que entre outros clássicos inclui “Garota de Ipanema”, uma das músicas mais tocadas no mundo — pode ser lida nos dois volume de Vinicius de Moraes — música . poesia . prosa . teatro (Editora Nova Fronteira). O primeiro reúne a poesia e a prosa poética. O segundo, a prosa, o teatro e o seu cancioneiro.
Um dos trabalhos mais significativos de Vinícius, a peça teatral Orfeu da Conceição é a base do roteiro do filme Orfeu Negro, de 1959, dirigido pelo francês Marcel Camus. A trilha sonora do filme é de assinada por Tom Jobim e Luis Bonfá e também tem música de Vinícius. Orfeu Negro – que teve outra versão, Orfeu, de 1999, dirigida pelo brasileiro Cacá Diegues – ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1960, representando a França, e pode ser visto no YouTube:
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