Guerra de versões
A coincidência entre o depoimento de Jair Bolsonaro no inquérito que apura sua suposta tentativa de interferir na Polícia Federal, na última quarta-feira, e a filiação do ex-juiz Sergio Moro ao Podemos, marcada para o dia 10, faz bem a Lula. Moro e Bolsonaro disputam nacos do antipetismo e pouco ameaçam os votos do ex-presidente. Além disso, a rivalidade entre Bolsonaro e seu ex-subordinado tende a crescer com a declaração do presidente de que seu ex-ministro da Justiça tentou vincular a saída do diretor-geral da PF à própria indicação para o Supremo Tribunal Federal.
Moro apressou-se em negar a troca de favores e é difícil que Bolsonaro tenha como provar o contrário. O que pesa contra a versão do ex-juiz é o fato de ele ter pedido ao então presidente eleito que lhe assegurasse uma renda vitalícia para que deixasse a magistratura e aceitasse o cargo de ministro da Justiça. Esse pedido Moro confirmou ao deixar o ministério, em abril de 2020, ao jornal “O Estado de São Paulo. Na ocasião, disse que queria uma pensão para sua família caso fosse morto no exercício da função ministerial – pedido inédito nos quase 200 anos de existência da pasta da Justiça, a mais antiga da Esplanada.
Ministros do STF recebem o teto salarial do serviço público (R$ 39,3 mil) e têm direito à aposentaria integral e vitalícia após cinco anos no cargo. O conforto e a segurança que Moro queria.
Sinuca
O ex-ministro Ciro Gomes colocou-se numa sinuca ao suspender a pré-candidatura à presidência da República até que os deputados federais de seu partido, o PDT, revejam o voto favorável à PEC dos Precatórios no segundo turno da votação, previsto para a próxima terça-feira (9/11). Dos 24 integrantes da bancada, 15 votaram como queria o Palácio do Planalto, permitindo o parcelamento das dívidas incontestáveis do governo federal com Estados, prefeituras, empresas e cidadãos a pretexto de viabilizar o Auxílio Brasil, novo nome do Bolsa Família.
Entre os votos pró-governo está o do deputado Leônidas Cristino (PDT-CE), o parlamentar mais próximo de Ciro Gomes depois de seu irmão senador, Cid (PDT-CE). Caso Cristino e os colegas de PDT não mudem de ideia, restariam a Ciro três opções: desistir da candidatura, mudar de partido pela oitava vez para disputar o Planalto ou fazer de conta que a decisão foi somente mais um arroubo.
Nada de Novo
Embora venha passando ao largo do noticiário dito nacional, a CPI da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) tem potencial para dar muita dor de cabeça ao governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), no ano eleitoral. Em quatro meses de trabalho, os deputados estaduais de Minas Gerais já se depararam com todo tipo de informação: contrato bilionário assinado com dispensa de licitação, subcontratação de empresa pertencente a secretário de Estado, subsidiária vendida a R$ 1, contratação de empresas ligadas a dirigentes do partido do governador.
Zema tem evitado o tema e resistido a substituir o presidente da Cemig, Reynaldo Passanezi Filho. Mas será inevitável dar explicações durante a campanha à reeleição. O assunto não deve morrer no recesso parlamentar. Os trabalhos da CPI, liderada pela oposição ao governo na Assembleia, acabam de ser prorrogados até fevereiro de 2022.
Para ficar de olho na semana que vem
– No segundo turno da votação da PEC dos Precatórios na Câmara dos Deputados, previsto para terça-feira (9/11). Caso seja mantida a vitória do governo federal – o que é pouco provável, seja pela estreita margem de apenas quatro votos, seja pela pressão sobre os parlamentares de oposição que votaram como queria o Palácio do Planalto – o texto segue para o Senado, onde a tramitação também não será simples. Se o placar virar, o presidente Jair Bolsonaro pode declarar estado de calamidade para furar o teto de gastos e pagar o Auxílio Brasil de R$ 400 em 2022.
– No discurso de Sérgio Moro na cerimônia de filiação ao Podemos, marcado para quarta-feira (10/11). O ex-ministro tem o desafio de superar o tema da antipolítica, seara em que fincou os dois pés ao trocar a magistratura pelo governo Bolsonaro, e defender o combate à corrupção sem constranger alguns de seus novos colegas de partido.
– Nos próximos passos do agora ex-procurador Deltan Dallagnol, que deixou o Ministério Público para entrar na política partidária. Dallagnol deve estar na cerimônia de filiação de Moro e o Podemos também pode ser seu destino para 2022.
Para ver no fim de semana (e ao longo do mês)
– A nova produção do cinema italiano e clássicos de Sergio Leone, Dario Argento, Lina Wertmüller, Mario Monicelli e Federico Fellini podem ser vistos e revistos gratuitamente no 16º. Festival de Cinema Italiano, de hoje (5/11). São mais de 30 títulos, a grande maioria dos clássicos com trilha do genial Ennio Morricone, morto em 2020.
Quem está em São Paulo pode assistir aos filmes no Petra Belas Artes – a exibição presencial vai até a próxima sexta-feira (12/11). Mas todo o conteúdo pode ser visto de qualquer lugar do mundo pelo streaming até o dia 5 de dezembro a partir do portal http://festivalcinemaitaliano.com