Para o líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), o tamanho das manifestações diante do investimento feito por Bolsonaro na organização dos atos acaba revelando mais enfraquecimento. “Os atos foram menores do que se esperava. Bolsonaro sai mais fraco”.
Os bolsonaristas prometiam pôr 2 milhões de pessoas na Avenida Paulista. Segundo a PM de São Paulo, 115 mil pessoas compareceram. A soma disso com a radicalização do tom pelo presidente faz Molon acreditar que o tiro de Bolsonaro pode ter saído pela culatra. “À medida que Bolsonaro continua esticando a corda, pode ser que outros partidos se convençam do que já sabemos, que não há a menor possibilidade de conversa democrática com o presidente e que ele é uma ameaça constante à democracia”.
A senadora Simone Tebet acredita que a economia deverá viver uma “ressaca” nos próximos dias em razão dos protestos. “O mercado vê a cada dia que o governo não tem política para combater crise econômica. O governo não sabe achar dinheiro para injetar na economia, para fazer as pessoas voltarem a comer e a consumir. O mercado é o primeiro a gritar”, afirma.
Vice-líder do PSD na Câmara e um dos maiores críticos de Bolsonaro em seu partido, Fábio Trad (MS) considera que o presidente Jair Bolsonaro perdeu com as manifestações, a despeito da multidão que saiu às ruas para apoiá-lo.
“O presidente ficou mais próximo do impeachment do que do golpe. Observo crescimento de deputados que já estão mais críticos e atentos. Não é mais aquela indolência que havia antes. Agora é vigilância, atenção e crítica”, afirma Trad. “Com aqueles parlamentares de centro e centro-esquerda que conversei, a impressão é que, se houve movimento de placas tectônicas, elas foram no sentido do impeachment”, acrescenta.
Na avaliação dele, Bolsonaro deixa em xeque a própria sobrevivência do Judiciário com seus ataques a ministros da Suprema Corte. “O presidente é uma autoridade constituída e revestida de poder legitimado pela Constituição. Como pode afirmar que não vai cumprir ordem emanada de outro poder? Isso é golpe. O precedente que pode gerar, o governador vai descumprir, o cidadão comum vai descumprir na primeira instância. Não vai haver mais Judiciário. Isso afeta a democracia. É algo muito grave.”
Trad prossegue: “O presidente é uma usina de instabilidade. Essa crise, que poderia estar no momento de arrefecimento, está agora exasperada. Os discursos foram abertamente golpistas, antidemocráticos, péssimos para a economia”.
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