Passados dois dias dos protestos, as manifestações bolsonaristas do Dia da Independência continuam sendo a principal pauta do noticiário e da política brasileira. No entanto, a greve dos caminhoneiros que se deflagrou na noite de quarta-feira (8) trouxe um elemento de desordem ao movimento e apreensão ao Governo Federal. Para conter a crise, Bolsonaro amenizou o tom, aconselhado pelo ex-presidente Michel Temer.
Mesmo com a leitura de que as manifestações do Dia da Independência foram um sucesso, o governo ganhou novas preocupações na noite de quarta-feira (8). Para a cúpula do governo, as manifestações deveriam cumprir dois critérios: serem ordenadas e volumosas. Na visão dos líderes políticos, ambos foram cumpridos.
A greve dos caminhoneiros, no entanto, trouxe um elemento de desordem às manifestações. Sem liderança e organização bem definidas, o movimento é visto com apreensão pelo Governo Federal. O locaute ocorrido durante o governo de Michel Temer causou impacto negativo de 1,2% do PIB. Bolsonaro não pode se dar ao luxo de um baque desse tamanho na economia.
Em áudio, cuja veracidade foi confirmada pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, Bolsonaro clamou diretamente aos caminhoneiros para que desbloqueassem as rodovias. Desorganizado, o movimento não se dispersou. Os efeitos da desordem acabaram tornando-se crise para o governo.
Bolsonaro teria recorrido ao próprio Temer para contornar a crise. O ex-presidente fez ponte entre o atual mandatário e o ministro Alexandre de Moraes, além de dar diretrizes para que Bolsonaro contorne a crise com os caminhoneiros.
Ainda que a aproximação Bolsonaro-Temer possa ter surpreendido alguns, não é a primeira vez que o presidente recebe conselhos do emedebista. Os dois já estiveram juntos em outras ocasiões críticas. Na mais emblemática, Bolsonaro confiou ao ex-presidente a chefia da missão humanitária brasileira ao Líbano, há um ano, por ocasião de uma forte explosão no porto de Beirute. Temer tem ascendência libanesa.
A intermediação de Temer deu resultado: Bolsonaro publicou no fim da tarde de hoje (09) carta onde ameniza o tom e afirma que as falas proferidas durante as manifestações teriam decorrido “do calor do momento”.
No entanto, é importante notar que a carta, mesmo com tom mais ameno, ainda indica que, na visão de Bolsonaro, não seria ele o responsável por “esticar a corda” e reforça que todos os poderes devem respeitar a Constituição.
O movimento é recorrente durante a gestão de Bolsonaro e não pode, no momento, ser interpretado como um recuo. É importante observar se o presidente irá manter a postura na live de hoje e nos próximos dias, além de como Alexandre de Moraes receberá o aceno do presidente. Moraes foi ministro da Justiça de Temer e o único integrante do Supremo Tribunal Federal indicado pelo ex-presidente.