
Inéditas e históricas, as imagens invadiram as telas, sites e milhões de celulares no mundo inteiro. Como num filme narrado em tempo real, fomos assistindo à sucessão de símbolos que marcam a posse do 39º presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. Lula é o primeiro brasileiro a assumir um terceiro mandato presidencial pela via democrática.
Foi uma aula viva e ressignificada de comunicação direta com a massa em pleno século XXI, marcado por um contexto comunicacional omnichannel, multimídia e digital. As imagens já são icônicas e marcas indeléveis da jovem democracia brasileira.
“Democracia sempre”, bradou Lula no primeiro discurso do dia, proferido no Congresso. Pouco depois, já no Parlatório, saudou a multidão que o aguardava desde cedo para assistir de perto à cerimônia na tarde quente e ensolarada de Brasília.
“Boa tarde, povo brasileiro”, começou Lula, repetindo em agradecimento a saudação que ouvia todas as manhãs da vigília em frente à sede da Polícia Federal de Curitiba, nos 580 dias de sua prisão.
Por trás de cada palavra e gesto havia um símbolo, uma mensagem, um destino certo. O repertório e o protocolo cumpridos numa posse precedida de mistérios e de ameaças emocionaram milhões de pessoas na Esplanada e também os que acompanhavam pela TV.
O desfile em carro aberto com o vice Geraldo Alckmin e a mulher, Lu Alckmin, ao lado do presidente Lula e de Janja foi simbólico da união e do papel que o vice terá no novo governo. A subida da rampa com representantes da sociedade civil produziu uma das mais icônicas imagens representando a diversidade do povo brasileiro. A faixa passando de mão em mão, sob a narração com voz embargada por alguns comentaristas, denotava o momento único, mais tarde reproduzido em charges, fotos e centenas de vídeos nas mídias sociais.
#Dia1, #QueMomento, #QueDiscurso, #QueLindo, #PosseDoPovo … a lista das muitas hashtags no ambiente digital traduzia o sentimento do momento nas ruas e nos lares da parcela de eleitores do novo presidente.
Na comunicação de massa, “o sucesso de uma mensagem, por maior que seja o tamanho de sua audiência, torna-a, por vezes, transformadora da sociedade, e não necessariamente seu reflexo”, define Eduardo Neiva, no Dicionário Houaiss de Comunicação e Multimídia.
Cerca de 300 mil pessoas lotaram a Esplanada dos Ministérios, que ficou colorida em tons de vermelho, portando bandeiras do Brasil de vários tamanhos. Vieram de todas as partes do país para presenciar e ver de perto a cerimônia da posse.
O que se viu no domingo 1º de janeiro em Brasília foi semiótica pura, ao vivo e em cores. Segundo o filósofo e pensador americano Charles Pierce (1839-1914), semiótica é o estudo do processo no qual signos representam objetos e criam interpretantes.
Houaiss define como o “estudo dos fenômenos culturais considerados como sistemas de significação, tenham ou não a natureza de sistemas de comunicação (inclui práticas sociais, comportamentos etc.)“
A imagem de Lula subindo a rampa de mãos dadas com representantes da sociedade civil dialoga, talvez, com a análise semiótica de Roland Barthes, que dividia o processo de significação em dois momentos. O denotativo trata da percepção simples, superficial.
O conotativo, segundo Barthes, continha as mitologias, como o semiólogo chamava os sistemas de código que nos são transmitidos e adotados como padrões. Esses conjuntos ideológicos às vezes são absorvidos despercebidamente, “o que possibilitava e tornava viável o uso de veículos de comunicação para a persuasão”, resume a Wikipédia.
A força da comunicação contemporânea é visual e ancorada na sua reprodutibilidade em multiplataformas e canais. Uma imagem vale mais que mil palavras. Um vídeo pode valer ainda mais em nosso ecossistema da comunicação tecnológica digital.
Houve momentos que as imagens pareciam conter uma certa aura, “um brilho luminoso envolvente”, conforme o mestre Houaiss. Foi uma posse multimídia, comentada, sentida, vibrada, sofrida e cantada. Um evento midiático pleno e exemplar do cenário atual de comunicação da era digital.