Momentos de crise são sempre desafiadores para gestores públicos. Mais ainda para o presidente da República, incumbido de transmitir confiança para que toda uma nação possa atravessar a turbulência. A análise que segue avaliou as crises pelas quais os últimos quatro presidentes brasileiros passaram: Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e, agora, Jair Bolsonaro.
É certo. Todo presidente enfrentará, em algum momento, crises de maior ou menor escala, que o colocarão sob o escrutínio constante da população e, também, da oposição, que buscará aproveitar qualquer deslize. Nesses momentos, uma palavra mal-colocada ou uma decisão equivocada podem trazer danos significativos à imagem.
Jair Bolsonaro enfrenta, hoje, uma crise sem precedentes, fruto da pandemia global do novo coronavírus. Pesquisas iniciais apontam que a atuação do presidente contra a pandemia é aprovada por 33% da sociedade. Parece pouco, principalmente quando comparada à atuação do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, aprovada por 76% dos entrevistados.
Mas, é interessante analisar, a crise do coronavírus tem causado menos problemas à imagem de Bolsonaro do que a leitura de dados de pesquisas “a olho nu” pode sugerir?

Fonte: Datafolha
No caso de Bolsonaro, os 33% que aprovam a atuação do presidente no combate à Covid-19 não são muito distantes da avaliação geral do governo, que ficou em torno dos 30% ao longo de 2019.

Fonte: Datafolha
Percebe-se, portanto, que a atuação de Bolsonaro pode ter gerado efeitos políticos claros, como o aumento da tensão do presidente com chefes dos demais Poderes e o consequente isolamento dentro do próprio governo, mas as pesquisas ainda não refletem efeitos significativos sobre a opinião pública.
Essa percepção é reforçada quando se olha para os efeitos das crises enfrentadas por ex-presidentes sobre a opinião pública. Observa-se, nesse sentido, que cenários conturbados tendem a impactar diretamente na aprovação dos governantes.
FHC e a sucessão de crises internacionais
Fernando Henrique Cardoso, responsável por estabilizar a economia brasileira com o Plano Real, viu sua popularidade ruir no fim do primeiro mandato. O momento coincidia com crises no cenário internacional e com a adoção do regime de câmbio flutuante pelo Banco Central, que levou à forte desvalorização do real e à estagnação econômica do país.

Fonte: Datafolha
Nos governos petistas, a crise começou com Lula, mas acabou com Dilma Rousseff
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, se beneficiou de um cenário internacional favorável até 2008, quando a falência do banco Lehman Brothers globalizou a crise americana dos subprimes. Mesmo assim, com a continuidade da política de estímulo ao consumo interno, o petista terminou seu governo com aprovação recorde. Na época, desqualificou a enorme crise mundial, chamando-a de “marolinha”.

Fonte: Datafolha
Os efeitos da crise de 2008 acabaram impactando a sucessora de Lula, Dilma Rousseff. A presidente tentou aplicar o mesmo remédio, liberando dinheiro de bancos públicos, cortando impostos e incentivando o consumo. No entanto, a situação fiscal do país já não era a mesma. Com a economia estagnada, a pressão política e a opinião pública levaram ao impeachment em 2016.

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O mundo pós-coronavírus: quatro possibilidades

Onde estaremos daqui a seis meses? Ou daqui a um ano? Ou daqui a uma década? Simon Mair, PhD em Economia Ecológica pela Universidade de Surrey, no Reino Unido, buscou responder essas questões em artigo para o Singularity Hub, centro de notícias e publicações da Singularity University. Apesar de não ser uma instituição de ensino credenciada, a SU, como é conhecida, não oferece qualificações universitárias tradicionais. É hoje um dos principais centros de inovação do mundo. A instituição oferece programas educacionais, consultoria em inovação e a Singularity Labs, uma incubadora de empresas.
Para Mair, há um paralelo entre o coronavírus e as mudanças climáticas. Ambos seriam responsabilidade, também, de nossa estrutura econômica. Isto é, ainda que tenham aspectos ambientais ou naturais, são majoritariamente problemas sociais. Portanto, atuar no combate à Covid-19 seria muito mais fácil com a redução das atividades econômicas não-essenciais, da mesma forma que se quisermos reduzir os impactos sobre o meio ambiente.
Diante da iminente recessão global, a pandemia escancara, para o autor, a fragilidade da nossa economia. Mas, segundo ele, o correto não seria aprovar “orçamentos de guerra” e aumentar a produção, mas o contrário, promovendo a redução da produtividade e a mudança do mindset de consumo.
Assim, Mair faz um exercício onde vê quatro futuros possíveis:
- o capitalismo estatizado
- o socialismo estatizado
- a barbárie
- e a ajuda mútua

O capitalismo estatizado é, justamente, o modelo utilizado pelo Brasil e por países como a Espanha e o Reino Unido. Nele, a busca seria pela manutenção do “valor de troca” como o consenso econômico. O socialismo estatizado, por sua vez, é a direção que os governos seguem ao estabelecer bolsas, indenizações compensatórias e outros auxílios para que seus cidadãos consigam passar pela crise.
Ele vê, ainda, a possibilidade de barbárie, em caso de falências generalizadas e graves consequências econômicas. Ainda assim, enxerga que as pessoas podem assumir posições de liderança, independentemente do estado, e cuidar de suas comunidades.
Os cenários são extremos, mas deixam claro que, no futuro, as mudanças sociais serão inevitáveis.
Covid-19 muda cenário eleitoral nos EUA

O dia de hoje trouxe novidades para o cenário das eleições nos Estados Unidos. O auto intitulado “socialista democrático” e pré-candidato à Casa Branca, Bernie Sanders, anunciou nessa quarta-feira (8/4) que está abandonando o disputado barco.
Com essa dança das cadeiras, o candidato democrata deixa o caminho livre para seu rival, o “moderado” Joe Biden concorrer com o republicano Donald Trump.
A comunicação da desistência por parte de Sanders à sua equipe veio por teleconferência. Comenta-se que a população americana, por sua vez, não encarou como grande novidade, já que, segundo as notícias repercutidas pela TV e rádio (nos EUA o rádio é o grande termômetro eleitoral), Sanders insistia em manter a campanha, mas já estava em uma situação irreversível.
O coronavírus mudou todo o panorama eleitoral na terra do Tio Sam. Com a chegada da pandemia aos EUA, a disputa presidencial ficou em segundo plano e as primárias em diferentes estados foram adiadas. A campanha de Sanders ficou restrita a algumas lives em redes sociais e participações em programas de TV, já que os comícios presidenciais foram cancelados.
Em uma rede social, Biden agradeceu o apoio: “Eu conheço Bernie bem. Ele é um bom homem, um grande líder, e uma das vozes que pedem mudanças mais poderosas do nosso país”.
A expectativa é a de que Biden seja oficializado como candidato democrata na convenção em Milwaukee, remarcada para a semana de 17 de agosto por conta da pandemia de coronavírus. A ver o que vem pela frente, só não esquecer que as eleições passadas foram marcadas por uma grande surpresa.
David Uip e a privacidade do paciente

Depois de se curar da Covid-19, o infectologista David Uip já está de volta ao Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo. Ele entrou em quarentena dia 23 de março e a velocidade com que retomou as atividades chamou a atenção do público. O vazamento de uma receita de sua clínica, na manhã de hoje, entretanto, irritou o médico , que se viu na desconfortável posição de confirmar o uso da hidroxicloroquina.
O incômodo em si não vem da confirmação, visto que Uip jamais se mostrou contrário ao uso do medicamento, mas sim da cobrança vir diretamente do Executivo federal. O desencontro veio após o ministro Luiz Henrique Mandetta ter afirmado que ampliaria a aplicação da hidroxicloroquina em pacientes da Covid-19, após conversar com médicos como David Uip, Fabio Jatene, Milton Arruda e Ederlon Rezende.
“A receita é da minha clínica. Ela é real. Algum lugar vazou de forma incorreta. O que nada me preocupa. Eu não tenho nada contra o uso de cloroquina. Pelo contrário, eu uso nos meus pacientes internados. O que está se fazendo é confusão a respeito do meu tratamento pessoal. O meu tratamento, o que eu deveria fazer do ponto de vista de preocupação eu fiz. Nos primeiros sintomas, fiz exame. Vim a público. Assim que percebi que estava complicando, vim a público. Mas divulgar a receita individual de qualquer paciente eu entendo que não é correto. A transparência como homem público é dizer tudo que eu tenho. Divulgar um tratamento para propagação ou não de medicamentos eu acho incorreto.”, disse.
O uso do medicamento ainda divide opiniões e, como pandemia não permite um estudo adequado dos seus efeitos ou eficácia, tende a atrair bastante especulação. O cardiologista Roberto Kalil Filho, do Hospital Sírio Libanês, recém-curado do vírus, defende o uso da hidroxicloroquina.
“Eu resolvi falar, defender para os pacientes internados. Desde que você consiga minimizar, atenuar a gravidade do caso do paciente, impedir vá para a UTI, mandá-lo para casa o quanto antes. Assim, além de estar salvando uma vida, desafoga o serviço público”, disse.
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