A exatamente um ano do primeiro turno das eleições presidenciais, líderes políticos ditos de centro procuram uma terceira via como opção às candidaturas de Bolsonaro (sem partido) e Lula (PT). A discussão ganhou corpo esta semana com as andanças do ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro (sem partido) pelo Brasil e a desistência do senador Tasso Jereissati de disputar as prévias tucanas. Além de Moro, a lista de nomes inclui os ex-ministros Ciro Gomes e Luiz Henrique Mandetta (DEM), que deixou o governo Bolsonaro pouco antes de Moro, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM) e os governadores tucanos João Dória (SP) e Eduardo Leite (RS).
Leite e Dória disputam as prévias do PSDB em novembro depois das desistências do ex-senador e ex-prefeito de Manaus, Artur Virgílio, e de Jereissati. A disputa interna é uma tentativa tucana de impor limites a Dória, que hoje tem o apoio de Virgílio e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Leite reúne todo o resto do partido, inclusive Alckmin, padrinho político e hoje desafeto de Dória, e Aécio Neves, que Dória pretendeu expulsar do partido depois que vieram a público gravações em que o ex-governador de Minas Gerais pedia muito dinheiro ao empresário Joesley Batista.
Caso saia vitorioso, Dória não deve abrir mão da cabeça de chapa, o que pode resultar num congestionamento de presidenciáveis no espectro entre Lula, o líder das pesquisas de intenção de voto, e Bolsonaro, o segundo colocado. Mais de uma candidatura seria o cenário ideal para o ex-presidente e o atual. A diluição dos votos antipetistas e antibolsonaristas praticamente asseguraria a presença dos dois no segundo turno, um reforço da polarização que se pretende enfrentar justamente com a tal terceira via.
Essa definição é cada vez mais urgente para que o escolhido tenha tempo de ganhar visibilidade Brasil afora.
União Brasil
Além desse risco, a fusão entre DEM e PSL permeia as discussões sobre a terceira via. Os dois partidos realizam convenções na próxima terça-feira. Caso aprovem o casamento, passarão a se chamar União Brasil e seu número na urna eletrônica será o 44. O DEM, que já foi Arena, PDS e PFL – os dois primeiros partidos de sustentação da ditadura militar -, dá a volta por cima, depois de ter sido quase extinto nos recentes governos do PT. O PSL se fortalece depois de ter se tornado a maior bancada da Câmara dos Deputados de carona no fenômeno Jair Bolsonaro, em 2018, e ter perdido visibilidade justamente a partir do momento em que o presidente deixou a sigla.
A União Brasil torna-se líder isolada no rateio das verbas do fundo eleitoral. Mas essa é única conta de somar pura e simples. A bancada na Câmara deve perder os pesselistas que se mantêm alinhados a Bolsonaro e devem seguir o presidente rumo a um terceiro partido. Outros podem se chegar quando o ex-PSL se distanciar desse passado recente.
A dúvida é: Rodrigo Pacheco fica no União Brasil ou troca o DEM pelo PSD de Gilberto Kassab, onde já está o ex-DEM Eduardo Paes, prefeito do Rio? O presidente do Senado pode disputar a cadeira de Bolsonaro sem correr riscos de ficar sem mandato porque tem assento no Senado até 2027 Mas um eventual fracasso pode significar sua não recondução à presidência do Congresso Nacional em 2023.
O desafio de Dória

João Dória quer repetir um feito que se tornou marca da sua meteórica e, até aqui, vitoriosa carreira política: desalojar o morador do Palácio que quer ocupar. Foi assim em 2016, quando se elegeu prefeito de São Paulo no primeiro turno, derrotando o petista Fernando Haddad, que tentava a reeleição. Um ano e meio depois, descumpriu a promessa de terminar o mandato e elegeu-se governador contra o então ocupante do cargo Márcio França, que também tentava permanecer no cargo. Não foi pouco.
Agora, quer a vaga tucana para tentar tirar Bolsonaro (sem partido) do Planalto. Mas desta vez terá de disputar prévias. É a primeira vez que os tucanos realizam prévias para definir o presidenciável do partido. Para Dória não é novidade. Ele teve de vencer eleições internas para ser candidato a prefeito e governador. Certo mesmo é que o partido seguirá rachado entre os apoiadores do governador paulista e seus desafetos.
Para ficar de olho na semana que vem:
– Nas convenções do PSL e DEM, que vão votar a fusão dos dois partidos.
– Nos desdobramentos das manifestações antibolsonaristas marcadas para amanhã
– No agendamento (ou não) da sabatina do ex-ministro André Mendonça pelo Senado, parte do processo para preenchimento da vaga aberta no Supremo Tribunal Federal há 80 dias
Para ficar de olho no fim de semana:
– No recém-lançado Ser Humanos – Tudo o que você precisa saber sobre o cérebro (numa tradução livre do original em espanhol), do neurologista argentino Facundo Manes.
O livro, disponível somente em espanhol e no formato eletrônico, traz os últimos avanços científicos das pesquisas sobre o cérebro humano e aponta funções cerebrais que não serão substituídas pela tecnologia.
O autor de Usar o cérebro (este disponível em português) defende, entre outras coisas, que em pouco tempo nossa dependência das redes sociais será tão mal vista quanto o fumo em ambientes fechados.