
De voz relevante do bolsonarismo a persona non grata. Abraham Weintraub interrompeu a temporada nos Estados Unidos – com direito a cargo no Banco Mundial e salário de R$ 1,3 milhão por ano -, mas o retorno ao Brasil foi ruidoso e provocou insatisfação de Jair Bolsonaro. O presidente não quer nem ouvir falar do seu ex-ministro da Educação. Weintraub voltou disposto a ser candidato ao governo de São Paulo, mas Bolsonaro tem outros planos: apadrinhou a candidatura de Tarcísio de Freitas, ministro da Infraestrutura, para o cargo.
Insatisfeito, Weintraub acusou o ex-chefe de se aliar ao Centrão para evitar um impeachment, criticou o distanciamento do governo com a “verdadeira ala conservadora” e levantou suspeitas sobre Bolsonaro saber com antecedência sobre a operação Furna da Onça, que tinha um dos filhos, o senador Flávio Bolsonaro (PL/RJ), como um dos alvos. Em resumo: Weintraub diz de Bolsonaro o que o então candidato e os bolsonaristas diziam dos adversários em 2018, o que chamavam de “velha política”.
O ex-ministro da Educação não está sozinho nas críticas ao governo. Weintraub tem se aliado aos também ex-ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores). A trinca tem provocado o maior racha entre a linha de pensamento bolsonarista até aqui. Weintraub trouxe a tiracolo o irmão, Arthur, que também ganhou cargo: secretário de Segurança Multidimensional da OEA (Organização dos Estados Americanos). Responsável pela indicação da cloroquina ao presidente, Arthur é um dos organizadores da caravana do irmão mais velho para tentar viabilizar a candidatura ao Palácio dos Bandeirantes.
Bolsonaro tem evitado o confronto público, mas reservadamente coloca os Weintraub na lista de “traidores” onde estão inscritos os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral) e Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo). Weintraub fica até outubro no Banco Mundial. Ele já recebeu a notícia de que não terá o mandato renovado.
Na mira do STF…

O presidente Jair Bolsonaro começa o ano devendo explicações ao Supremo Tribunal Federal por causa da acusação de vazar dados sigilosos de um inquérito que trata de ataques hackers ao sistema do Tribunal Superior Eleitoral. Até a próxima sexta-feira, Bolsonaro deve prestar depoimento na Polícia Federal e explicar por que divulgou um link com a íntegra da investigação que corre em segredo de justiça nas redes sociais.
A intenção era atacar a segurança das urnas eletrônicas. O inquérito do STF é conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes e já ouviu o deputado Filipe Barros (PSL/PR), que participou da divulgação dos documentos. Bolsonaro pode ser acusado de crime de divulgação de segredo com potencial prejuízo para a administração pública, previsto no Código Penal.
Será o segundo depoimento de Bolsonaro à PF em menos de três meses. Em novembro do ano passado, ele foi ouvido na investigação sobre a interferência política na Polícia Federal.
… e da CPI

A CPI das Fake News do Congresso também promete ser uma arena de desgaste ao presidente Jair Bolsonaro. A comissão, que ficou parada em função da CPI da Covid-19, retomará os trabalhos em fevereiro com a carga voltada à disseminação de notícias falsas durante a campanha eleitoral. A ideia do colegiado, formado por 16 deputados e 16 senadores, é fazer parcerias com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Ministério Público Federal (MPF), além de reforçar a importância da população de denunciar.
Recentemente, o Twitter incluiu uma ferramenta para permitir a denúncia de informações erradas. O TSE também promete ser implacável com as Fake News e o uso do aplicativo Telegram pode ser proibido no país.
Mas a CPI também fará uma nova investigação sobre o chamado “gabinete do ódio”. O grupo, segundo as investigações é liderado pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos/RJ), o filho 02 do presidente. Ele é acusado de usar a viagem presidencial a Dubai como oportunidade para negociar o programa espião DarkMatter, segundo denúncia feita pelo portal UOL. Um assessor do Palácio do Planalto teria mediado a compra.
A ferramenta foi desenvolvida por um grupo de hackers e é capaz de invadir computadores e celulares. Temendo o risco de uso nas eleições, o PT entrou com uma representação no Ministério Público pedindo explicações. Ninguém do governo se pronunciou sobre o assunto.
A campanha tá on

Os presidenciáveis colocaram em marcha diferentes estratégias para conquistar o eleitorado. Para melhorar a articulação com o Congresso em geral e com os mineiros Aécio Neves (PSDB), Antonio Anastasia (PSD) e Rodrigo Pacheco (PSD), em particular, o presidente Jair Bolsonaro convidou o futuro senador Alexandre da Silveira, também do PSD mineiro, para ser líder do governo no Senado.
Silveira tomará posse no dia 1º. de fevereiro como suplente de Anastasia, que renunciará ao cargo para tornar-se ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Ex-deputado federal, Silveira foi secretário de Estado em Minas Gerais nos governos de Aécio Neves e do próprio Anastasia e era o diretor Jurídico do Senado, presidido por Pacheco.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta conciliar as divergências internas do PT e quer fechar o acordo com o PSB o mais rápido possível. Busca fechar a aliança com Geraldo Alckmin para a vice-presidência, mas não afasta uma conversa com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, para buscar novos nomes.
Sérgio Moro (Podemos) passou quase toda a semana isolado por causa da Covid-19. Na quinta-feira, o exame deu negativo, mas o pré-presidenciável só volta à estrada na semana que vem. Mesmo em casa, conseguiu o apoio do Movimento Brasil Livre (MBL) e pode fechar com o Cidadania. Mas está pressionado a deixar o Podemos e se filiar ao União Brasil, fusão de DEM e PSL, para conseguir um partido com maior capilaridade no país.
Ciro Gomes (PDT) queria Marina Silva (Rede) no palanque, mas a maioria do partido dela está mais propensa a subir no palanque de Lula. Com inspiração no livro de Barack Obama e sob a batuta do marqueteiro João Santana, o pedetista antecipou o slogan da campanha: ‘A rebeldia da esperança’. O lançamento oficial da pré-candidatura será hoje (21/01), em Brasília.
Quinto colocado nas pesquisas, João Doria (PSDB) pretende marcar posição e dar uma guinada na candidatura tendo a vacinação como mote. Para isso, o tucano lançou esta semana a “Galinha Vacinadinha”, inspirada na Galinha Pintadinha e voltada para estimular a imunização infantil. Mas Dória tem de ser rápido para conter a pressão de uma ala do partido que quer que o governador de São Paulo abandone a candidatura.
O risco Ômicron

O ápice da variante Ômicron da Covid-19 no Brasil deve ocorrer em fevereiro, segundo estimativas feitas por especialistas a partir do comportamento do vírus em outros países. A explosão de pessoas contaminadas – que ultrapassou esta semana 200 mil casos diários, um recorde da pandemia – e o risco de pressão no sistema de saúde já obrigaram os governantes a adotar medidas mais drásticas.
No Distrito Federal, o uso de máscaras em locais públicos voltou a ser obrigatório. Em alguns estados, como Tocantins, houve a ampliação do número de leitos para a Covid. Em Pernambuco, a taxa de ocupação das UTIs está em 86%; no Espírito Santo chega a 79,17%; e, no Ceará, 78,72%.
O desfile das escolas de samba em São Paulo está mantido, por enquanto, mas, se ocorrer será uma reedição forçada dos bailes de máscara no Carnaval. Tanto o público quanto os integrantes das agremiações terão que usar máscaras. Haverá ainda a cobrança do passaporte da vacina para entrar no Sambódromo do Anhembi.
Nesta semana, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deu prazo de 15 dias para o Ministério da Saúde explicar como serão feitos os autotestes contra a Covid-19. Ficou definido, contudo, que os planos de saúde serão obrigados a cobrir os testes rápidos, segundo determinação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
A Anvisa também decidiu liberar a vacinação emergencial de crianças e adolescentes de 6 a 17 anos com doses da Coronavac.