Sou racista. Admitir é o primeiro passo para mudar a realidade de um país onde a maioria da população diz que existe racismo, mas 97% se declara não racista. Os números, já publicados por veículos como o El País, foram citados durante o webinar Arena de Ideias pela poeta e atriz Elisa Lucinda nesta quinta-feira (18/6) pela manhã. Estiveram com ela no debate sobre racismo estrutural e responsabilidade das empresas, a ativista Luana Génot, fundadora e diretora- executiva do Instituto Identidades do Brasil; a gerente de Treinamentos e Conteúdo da In Press Oficina, Natália Lima; e a sócia-diretora da agência, Patrícia Marins.
Luana, que é publicitária e autora da obra Sim à Igualdade Racial, também foi bolsista do programa Ciências sem Fronteiras e trabalhou na campanha de Barack Obama, nos Estados Unidos, como voluntária. Em Chicago, teve a primeira chefe negra, Maggie Willians, fundadora de uma agência de publicidade. “Ela chefiava uma equipe enorme e aquilo me inspirava muito”, contou. De volta ao Brasil, Luana foi trabalhar numa multinacional: “Eu não me enxergava refletida naquela estrutura. Apesar de preencher os requisitos e ter ali um plano de carreira, eu entendi que esse plano seria, de alguma forma, interrompido por eu não me ver representada naquela estrutura. Embora fosse uma empresa inteiramente feminina, ser feminina e entender a questão de raça são coisas totalmente distintas.”
Para Luana, temos que mudar o panorama do mercado de trabalho. Ela lembrou que nos últimos anos houve um grande contingente de pessoas negras formadas até mesmo por causa das políticas públicas de inserção nas universidades.
“Mais de 100 universidades no Brasil já têm cotas, algumas triplicaram o número de pessoas negras em suas estruturas. Mas já há uma grande quantidade de pessoas negras formadas que não estão sendo aproveitadas pelo mercado de trabalho.”
Narrativas que descredenciam
Está aí refletido o racismo estrutural. Há uma estrutura que reproduz a exclusão sistêmica de um grupo de negros, pardos, indígenas por causa de sua cor de pele e cabelo.
“Ainda que você apresente competências para a vaga, as pessoas vão achar nas suas características físicas narrativas que te descredenciem: ´você não é competente para aquela vaga´; ´eu acho que você não tem o perfil´, ´eu acho que nossos clientes não vão ficar muito à vontade com você liderando essa conta´, e etc. Eu já ouvi isso.”
Natália Lima, que atualmente ocupa cargo de liderança na In Press Oficina, afirmou que ao longo da carreira na área de Comunicação nunca teve um chefe negro. “Até meus pares, meus colegas de trabalho… Encontrei pouquíssimos negros nessa minha trajetória”, relatou. Segundo ela, quando havia negros nos espaços de trabalho, as pessoas estavam em posição inferior, servindo. “Trabalho na área de treinamentos e conteúdo, capacitamos muitos profissionais e me lembro, nos últimos anos, de ter treinado um único porta-voz negro. Isso mostra um reflexo do que a gente encontra diariamente no mercado de trabalho e onde os negros estão atuando.”
Ilustram o debate proporcionado por Arena de Ideias dados do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, citado pela página TAB/UOL, segundo os quais, 0,9% dos médicos formados no estado em 2015 eram negros. No mesmo ano, 85% dos médicos diplomados eram brancos. Outro dado, desta vez da Universidade de São Carlos, reflete como o racismo é estrutural no país: 61% das vítimas fatais de policiais paulistas são negros. Calculando a proporção estadual de raças, a letalidade é três vezes maior contra negros do que contra brancos.
Consumidor quer ação das empresas contra o racismo estrutural
Patrícia Marins enfatizou como é incômodo tratar do racismo estrutural no ambiente corporativo, mas que tem de ser enfrentado. “As empresas têm que agir sobre aquilo que está sob seu controle. O racismo permeia a sociedade, não só a brasileira, mas a mundial. Ela citou pesquisa realizada no Brasil em 2019 pela FleishmanHillard, outra empresa do Grupo In Press, com consumidores engajados para aferir a percepção de reputação e marca de 160 empresas com atuação no Brasil.
O resultado do estudo chamado de Authenticity Gap foi o de que os consumidores brasileiros esperam que as empresas se posicionem contra as diferenças, contra as desigualdades. E, em especial, citaram o racismo.
“Esse mesmo mostrou que a sociedade não quer apenas que as empresas se posicionem, mas que tomem uma atitude. Nós, empresários brasileiros, temos um papel muito ativo na sociedade e temos que enfrentar esta situação”, enfatizou Patrícia.
A In Press Oficina decidiu firmemente combater o racismo estrutural e, para isso, conta com a assessoria do IDBR de Luana Génot. Em 5 de junho, internamente, para fazer primeiro a lição de casa, foi divulgada para os colaboradores a Carta Compromisso contra o Racismo.
O primeiro passo é a parceria com o instituto Identidades do Brasil (ID_BR), uma organização comprometida com a aceleração da promoção da igualdade racial nas organizações. O segundo é o manifesto “Seja antirracista“, já assinado pelo Grupo In Press e pela In Press Oficina. Ao assinar esse manifesto, nos comprometemos a mapear o número de pessoas negras em cargos de liderança na empresa e definir uma meta de quantos profissionais autodeclarados negros e negras nos comprometeremos a contratar anualmente.
Além disso, faremos um planejamento com ações de educação racial, para conscientizar sobre o racismo, esclarecer o que são comportamentos racistas, e definiremos uma política antirracismo para nossa empresa. Também iremos incluir em nossa agenda uma política interna para garantir a segurança de nossos colaboradores negros a partir de um protocolo para lidar com denúncias de racismo.
Esse será o nosso compromisso. Exigiremos o mesmo comprometimento dos nossos colaboradores. Ser inquieto é, antes de tudo, não ficar calado diante de injustiças. Esperamos que todos da In Press Oficina se eduquem sobre o racismo e apresentem atitudes antirracistas.
Não tem mais tapete pra esconder o racismo embaixo
Elisa Lucinda se disse cansada de lutar há tantos anos para a redução de danos pelo menos.
“É muito doloroso, é muito traumática a situação social entre o negro. É muito pesado um homem negro, um menino, um rapaz cheio de sonhos, ter que provar rapidamente pra todo mundo que não é ladrão, sem nenhum indício disso. Só porque é preto. Não é possível que uma moça, uma menina que acabou de desabrochar como mulher, seja o tempo inteiro confundida com um corpo disponível de acesso e uso de todos. Logo quando se começa a ser mulher, já se começa a se proteger e deixar claro que não é prostituta. Nada contra a prostituta, mas não se pode reduzir, racionalizar uma profissão dessa maneira.”
Segundo Elisa, há um tapete, debaixo do qual o racismo ficou. “Por causa do Gilberto Freire, do conceito da democracia racial, dessa mentira, dessa ilusão. Agora parece que não cabe mais. Não tem mais tapete. A morte do Georg Floyd parece que puxou tudo agora. Eu tô cansada porque estou falando há muitos anos do que se está escutando agora. As pautas das quais eu e Luana temos participado são pautas novas para a grande mídia. Agora que as televisões descobriram que aquele papel de comentaristas brancos é constrangedor. Tem uma cegueira combinada. E o apartheid do brasileiro não é visto. Aliás, não é só no Brasil, não. Os negros estão sempre numas periferias, concentrados. Em toda diáspora eu costumo dizer que acontece assim.”
O debate contou com participação ativa de internautas, que fizeram perguntas, sugeriram livros antirracismo, fortaleceram a fala das debatedoras. Luana Génot desafiou a In Press Oficina a publicar no site metas e prazos até 1º de julho, o que foi aceito prontamente por Patrícia Marins. O primeiro passo para isso está sendo iniciar um censo interno e oficinas para capacitação de colaboradores. “Eu frequento muitas rodas de samba porque lá me sinto representada. Quero me sentir representada também no meu trabalho na In Press Oficina como me sinto no samba. Quero olhar para o lado e ver um monte de gente como eu.”, finalizou Natália.
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