A diplomacia tem forma e prazos próprios. Às vezes discretos e lentos demais num mundo de conexões cada vez mais imediatas. Ou num Brasil que precisa falar cada vez mais alto na medida em que é cada vez menos ouvido nos fóruns internacionais. Um exemplo dessa habilidade foi dado pela diplomacia sul-africana e levou à retirada da indicação do nome do ex-senador Marcelo Crivella para embaixador do Brasil na África do Sul, no começo da semana. Durante cinco meses, Pretória ignorou o nome do bispo da Igreja Universal, demonstrando sua insatisfação com o governo Bolsonaro de se valer do posto na capital sul africana para resolver pendências do Palácio do Planalto com o bispo Edir Macedo, fundador da Universal e tio de Crivella.
Na ocasião da indicação, Crivella estava sem passaporte por decisão da Justiça (o documento já foi devolvido) e a Universal tinha problemas graves com o governo de Angola, que cassou a concessão de TV da igreja justamente onde havia sua maior operação no continente africano. O silêncio eloquente de Pretória foi um recado simultâneo ao Brasil e aos seus grandes parceiros comerciais Moçambique e Angola, países de língua portuguesa onde a Universal tem presença marcante. Os dois países africanos tinham feito chegar à África do Sul seus protestos contra a indicação de Crivella.

Na fila da vacina
A China foi do barulho ao silêncio na reação ao governo brasileiro. Os ataques pueris de líderes políticos brasileiros ao comunismo e à ineficácia da vacina chineses renderam reclamações de desculpas públicas da embaixada da China em Brasília. Mas foi na surdina que o país asiático deu o troco. Pequim adotou embargo à carne brasileira em setembro, após a identificação de EBB (Encefalopatia Espongiforme Bovina) —conhecida como o “mal da vaca louca”. A suspensão só foi revertida graças aos esforços do Itamaraty e do Ministério da Agricultura.
Antes, no auge da segunda onda da pandemia, os chineses deixaram o Brasil na fila do IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) da vacina anti-Covid, o que levou à falta de vacina em muitas cidades brasileiras.

Reação ruidosa
A diplomacia que sabe ser discreta pode se comportar como um pavão. Foi o que acabou de fazer o presidente francês Emanuel Macron francês ao receber o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com honras de chefe de Estado. Bolsonaro, que já chamou a mulher de Macron de feia, disse que a recepção “pareceu provocação”. Antes, Macron já travara o acordo entre União Europeia e Mercosul, alegando dúvidas em relação às políticas ambiental e de Direitos Humanos do Brasil.

Semana de vitória
O presidente Jair Bolsonaro conquistou vitórias importantes esta semana, sobretudo no Senado. A articulação funcionou e André Mendonça foi aprovado com apoio de 47 senadores – seis a mais do que o necessário – e se tornou o novo ministro do Supremo Tribunal Federal minando as resistências ao perfil “terrivelmente evangélico”. A PEC dos Precatórios, antes ameaçada de ir para a gaveta, passou no plenário garantindo o pagamento do Auxílio Brasil para 17 milhões de brasileiros – um trunfo da campanha à reeleição. A PEC deve abrir espaço superior a R$ 106 bilhões no orçamento. No STF, a vitória foi do filho “zero um”. O senador Flávio Bolsonaro (PL-SP) manteve o foro privilegiado e teve anuladas provas no caso das rachadinhas.
Para ficar de olho na semana que vem
- Nas conversas entre João Doria e Sérgio Moro em busca de consenso na terceira via
- Na conclusão da proposta orçamentária para 2022 pela Comissão de Orçamento.
- Na negociação para criar o Ministério do Patrimônio Público, que interessa ao Centrão.
- Lula e Geraldo Alckmin têm encontro para discutir possível aliança nas eleições de 2022.
Para ver no fim de semana
Os bastidores do processo criativo de uma das maiores bandas da história é o pano de fundo da minissérie documental The Beatles – Get Back, disponível na plataforma Disney+. É uma espécie de reality show que mostra o desafio de Paul McCartney, John Lennon, Ringo Starr e George Harrison de criar, do zero, um novo disco com 14 músicas que daria origem ao primeiro show da banda em três anos e que, mais tarde, se tornaria um programa de TV.
As cenas do confinamento foram gravadas em 1969. A direção é de Peter Jackson, o mesmo de Senhor dos Anéis, a partir de 60 horas de imagens e 130 horas de áudio. Os três capítulos têm quase oito horas de duração, incluindo a íntegra de um show ao ar livre no terraço dos escritórios da Apple Corps, a companhia fundada pelos Beatles.