As tensões entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, aumentaram nos últimos dias a ponto do secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, pedir demissão hoje (15/4), certo de que a gestão acabou. O pedido, entretanto, não foi aceito pelo comandante da pasta. “Nós vamos trabalhar juntos até o momento de sairmos juntos”, declarou Mandetta, que nem recebeu a carta.
A mensagem-chave de Mandetta tem sido a de que segue única e exclusivamente a técnica e a ciência. Entretanto, de fato, tem feito muita política. Analistas em Brasília comentavam, hoje, como estão arquivando as imagens do ministro da Saúde na live da dupla Jorge&Mateus. Virou uma espécie de relíquia dessa nova comunicação governamental em tempo de coronavírus.
Que político perderia 13 milhões de visualizações? Mandetta ocupou muito bem o espaço. Falava de Saúde, mas fazia política. Como tudo tem um preço, fontes contam que, acabou angariando mais antipatias no Planalto.
“Um médico não abandona seu paciente”, afirmou o ministro, quando ainda não estava com a imagem tão desgastada. Mas foi ele mesmo quem repetiu inúmeras vezes: quem manda é o presidente da República. Assim, o Planalto tomou para si o protagonismo, assumindo a coordenação das coletivas de imprensa diárias que, quando no Ministério da Saúde, mantinham Mandetta como o grande porta-voz da crise. Agora, o comando é do ministro-chefe da Casa Civil, Braga Netto.
A necessidade de alguém que apazigue as relações, seja efetivamente técnico e traga equilíbrio ao dia-a-dia parece estar sendo avaliada pela cúpula militar do governo. Assim, está aberta a disputa entre as diversas alas políticas e ideológicas do governo para emplacar uma indicação. E é do núcleo militar, que assumiu a condução do enfrentamento à crise, de onde partirá o aval para nomear o novo ministro da Saúde.
Os generais Augusto Heleno, Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos, além do policial militar Jorge Oliveira, dominaram a agenda de Bolsonaro no último mês. Os militares também foram diretamente responsáveis pela manutenção de Mandetta no cargo durante os primeiros conflitos.
Sendo assim, entre os vários nomes de disputa, é provável que o governo tome uma escolha ponderada, em busca de uma narrativa unificada, como prega Braga Netto.

Alguns nomes têm sido defendidos por aliados de Jair Bolsonaro para ocupar a cadeira de ministro da Saúde. Entre eles:
Antonio Barra Torres
Contra-almirante da Marinha, o terceiro posto mais alto da corporação, Barra Torres é o atual presidente da Anvisa. É especialista em cirurgia vascular e gestão em saúde e assumiu, ao longo de 30 anos, diversas funções administrativas dentro da Marinha. Tem relação estreita com Bolsonaro, mas tirá-lo da agência, agora, seria complicado, pois o presidente ainda precisaria indicar um novo diretor, a ser sabatinado pelo Senado Federal. Em entrevista recente à CBN, Barra Torres chamou a atenção por usar um tom muito mais alinhado com a Economia do que com a Saúde.
Claudio Lottenberg
O oftalmologista Claudio Lottenberg é o atual presidente do Hospital Israelista Albert Einstein, onde Bolsonaro foi operado após receber a facada durante sua campanha. Recém-filiado ao DEM, conta com a simpatia de membros do partido. No entanto, afirma não ter sido sondado para o cargo.
João Gabbardo
O pediatra João Gabbardo é o atual secretário-executivo do Ministério da Saúde. Indicado por Osmar Terra, é um dos principais porta-vozes sobre as medidas de enfrentamento ao coronavírus. Devido à sua relação com Terra e ao fato de já integrar a pasta, seria uma escolha estratégica de Bolsonaro, agradando politicamente enquanto dá ideia de continuidade.
Ludhmila Hajjar
Cardiologista, Ludhmila Hajjar é diretora de Ciência e Inovação da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Foi braço-direito de Roberto Kalil Filho, outro cotado para o cargo. Os dois, entretanto, estariam estremecidos. Defende o isolamento como estratégia de transição e é contra “extremismos”. No entanto, já afirmou que a cloroquina é “vista como salvadora, mas não é”. Quando do Sírio-Libanês, chegou a ser convidada pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado, para assumir a Secretaria de Saúde. Foi ela quem escreveu a parte de Saúde do programa de campanha de Caiado.
Nelson Teich
Nelson Teich é oncologista e já havia sido cotado para assumir o Ministério da Saúde no início do governo Bolsonaro. É próximo ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e ao secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten. Sua possível indicação já recebeu o apoio da Associação Médica Brasileira (AMB).
Nise Yamaguchi
Oncologista e imunologista, Nise Yamaguchi é médica do Hospital Albert Einstein. Sua irmã, Naomi, foi candidata a deputada federal pelo PSL e integrou o grupo técnico de transição do Ministério da Educação, à época coordenado por Ricardo Vélez. É defensora do uso de cloroquina e do isolamento vertical, pautas defendidas pelo presidente da República.
Osmar Terra
Médico e deputado federal, Terra foi ministro da Cidadania até fevereiro. Deixou o cargo devido à insatisfação de Bolsonaro com a atuação do ministério nos programas sociais, principalmente em relação ao Bolsa Família, que passou a acumular filas. Ainda assim, compactua com a agenda moral do presidente da República, inclusive o afrouxamento do isolamento.
Roberto Kalil Filho
Cardiologista, Roberto Kalil Filho é fundador do centro de cardiologia do Hospital Sírio-Libanês e diretor do Instituto do Coração. Vem de família tradicional com longas alianças políticas. Atenderam de João Figueiredo ao ex-presidente Michel Temer. Infectado pelo coronavírus, Roberto Kalil foi citado por Bolsonaro após admitir o uso de cloroquina para tratar a doença.
Deputados pressionam pela aplicação do Revalida

O imbróglio em torno do Revalida, prova criada para simplificar o processo de reconhecimento de diplomas de Medicina emitidos por instituições de ensino estrangeiras, foi retomado pela comissão externa de enfrentamento ao coronavírus na manhã de hoje (15/4).
Parlamentares retomaram a promessa do Ministério da Educação, quando publicada norma no final de 2019, sobre aplicação da prova em maio, com edital publicado 60 dias de antecedência. No entanto, até o momento, não há perspectiva de que o edital seja posto na rua.
Diante da inércia do Poder Executivo, 17 deputados membros da comissão externa apresentaram projeto de lei propondo a realização do teste em caráter emergencial, até 30 dias após a promulgação da lei, como forma de suprir a carência de médicos para combate à Covid-19.
Debate
O deputado que encabeça o texto, o sanitarista Jorge Solla (PT/BA), afirma que mais de 15 mil médicos brasileiros que têm formação em universidades no exterior estão aguardando autorização para exercerem sua função.
Já a deputada Soraya Manato (PSL/ES) vê alguns impedimentos para execução da proposta defendida pela maioria dos membros do colegiado. Ela acredita que esta não deveria ser a prioridade da comissão no momento, pois incorreria em um aumento no risco de contágio durante a aplicação da prova. Soraya argumenta que, em um cenário que exija a contratação urgente de profissionais da saúde, esta seja feita sem a necessidade de registro para atender a demanda da população o quanto antes.
Agenda da comissão
Segundo o presidente da comissão, deputado Dr. Luizinho (PP/RJ, na foto), o Revalida voltará para pauta na próxima reunião da comissão, atendendo ao pedido do coordenador da Frente Parlamentar da Medicina, deputado Hiran Gonçalves (PP/RR). Ele foi um dos principais articuladores da aprovação do Revalida em 2019.
Outras medidas com o mesmo teor correm paralelo na Câmara, como a do deputado José Nelto (Podemos/GO). A emenda à Medida Provisória 934/2020, sobre normas excepcionais sobre a duração do ano letivo, obriga a aplicação do Revalida em até dez dias, a partir da aprovação do texto que aguarda deliberação no Plenário da Câmara.
Vacina para caminhoneiros

A partir de amanhã (16/4), doentes crônicos; profissionais das forças de segurança e salvamento; motoristas de transportes coletivos e portuários deverão se vacinar contra a gripe. A grande novidade é que os caminhoneiros também foram incluídos ao grupo.
JN apresentará ações solidárias de empresas

O webinar Arena de Ideias promovido, na manhã de ontem, pela In Press Oficina, sobre Propósito, Neurociência e Marcas, teve uma conclusão importante. Em época de coronavírus, sobreviverá a marca que tiver um propósito muito bem definido, uma razão para existir. Não morrerá a empresa que estiver engajada e evitar dois polos perigosos neste momento de crise: o da omissão e o do oportunismo. Na mesma linha, o Jornal Nacional de ontem avisou que, enquanto durar a pandemia, vai apresentar as ações solidárias que estão sendo realizadas pelas empresas dando nome e sobrenome. O nome do quadro é Solidariedade S/A.
Leitura para a quarentena
Por que foi que cegamos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem.
José Saramago, Ensaio sobre a Cegueira, 1995.
Números do dia

Fonte: Ministério da Saúde