O ministro da Saúde pediu demissão 27 dias depois de ter aceitado a missão de reunir dados e desenvolver plano para a flexibilização do isolamento social nos estados e municípios. Eram 16h quando a coletiva de imprensa começou. O oncologista Nelson Teich parecia ter recuperado a energia ao iniciar a despedida: “A vida é feita de escolhas e hoje eu escolhi sair”. Em seu Twitter, o outro ex-ministro, Luiz Henrique Mandetta (DEM/MS), desejou força ao Sistema Único de Saúde. E, como bom político, disse a jornalistas que anda orando muito.
Desde cedo, pela manhã, as relações governamentais em Brasília fervilhavam na busca de informações sobre quem será o sucessor de Teich. O nome mais cotado continua sendo o do general Eduardo Pazuello. Mas a médica Nise Yamaguchi, favorável à verticalização do isolamento social, também teria sido chamada ao Palácio do Planalto hoje pela manhã.
Já como chefe interino do Ministério da Saúde, Pazuello deverá assinar o novo protocolo da pasta de maneira a liberar o uso da cloroquina até mesmo em pacientes com sintomas leves da Covid-19. Hoje, a orientação é a de que profissionais do sistema público de saúde só prescrevam a substância para pacientes em estado grave. A opinião do presidente da República, Jair Bolsonaro, falou mais alto do que a da própria Anvisa, que ainda aguarda estudos que comprovem a efetividade do uso diante dos riscos da medicação.
Contínua transição
O que preocupa no momento não é a nova mudança da pasta, que tem corpo técnico de servidores competentes e aguerridos, prontos para dar apoio ao novo comandante. O que incomoda no Planalto Central é uma certa sensação de frustração, de vazio e de contínua transição que as notícias deixam.
Hoje o perfil @O_Lobista ironizava: “To Do List (versão revival): Rasgar o Stakeholder Map do Ministério da Saúde que estava ficando pronto e começar um novo”. Mas o vazio vai muito além do fazer e refazer perfis de protagonistas e influenciadores. O começar novamente tem seu preço. O estar começando incessantemente muito mais. Se houve erros. É preciso, agora, acertar.
Paredes de concreto, ouvidos espichados
Quem já viveu transição em Brasília sabe o que é enfrentar as paredes de concreto e os elevadores antigos, alguns reformados, dos ministérios. Longos corredores frios com salas e servidores públicos, muitos dos quais querem ficar longe das disputas políticas para tentar, muitas vezes, manter uma função que faz a diferença no final do mês. Pra que brigar? Eles cumprem a rotina, desempenham a missão e voltam para casa discretos. O chefe da pasta chega como um estrangeiro. Precisa de tempo para se apresentar.
É um rebuliço de processos antigos, arquivos em papel, arquivos digitais, memória que muitas vezes está somente na cabeça de alguém, um servidor, que tem de ser conquistado. Processos de hoje, de ontem, de outros governos. Riscos. Oportunidades. E há o controle interno, oficial. E há o controle interno, informal. Olhos e ouvidos se espicham para obter informação. Há as reuniões que não cessam, mesmo que por vídeo, com parlamentares sedentos de respostas para eleitores e seus estados; secretários de saúde; prefeitos; representantes de entidades filantrópicas; de Santas Casas; de entidades privadas; de organizações não-governamentais. E há jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas.
Um mês é muito pouco para quem nunca enfrentou as transições, os gabinetes, as gavetas que acabaram de ser esvaziadas, os quadros que mudaram de parede para dar uma ideia de novidade. Esse ritual de chegada, de imersão, de instalação, de interpretação de cenários, de composição de equipe, de planejamento e estratégia pede, exige, tempo.
Fato é que com a Covid-19 e 15 mil mortos, esse tempo não existe. O ministro-chefe da Casa Civil, general Walter Braga Netto, vinha organizando o time da Esplanada quando começou a queda de braço da cloroquina. “Só aceitei esse cargo porque achei que poderia ajudar o Brasil”, afirmou Teich, ao se retirar de cena. Diante da cadeira vazia e da necessidade de dar continuidade com disciplina e organização, pelo menos aos olhos de Braga Netto, ter um Pazuello nesse momento é fundamental.

Candidatos e seus perfis

Eduardo Pazuello
O atual secretário-executivo do Ministério da Saúde assume a pasta interinamente com o aval do presidente Jair Bolsonaro e com as honras do ministro da Casa Civil, general Braga Netto.
Pazuello foi convidado a ocupar o segundo cargo mais importante no Ministério da Saúde, assumindo a coordenação da parte de gestão e logística da pasta. No entanto, acabou concentrando todas as decisões práticas, sendo constantemente chamado para reuniões no Planalto. Os colegas militares o chamam de “resolvedor de coisas”.
Antes de vir para Brasília, o general comandou a 12ª Região Militar da Amazônia, sendo conhecido nacionalmente pela Operação Acolhida, que cuidava da entrada de refugiados venezuelanos em Roraima.

Nise Yamaguchi
Oncologista e imunologista, Nise Yamaguchi é médica do Hospital Albert Einstein. Sua irmã, Naomi, foi candidata a deputada federal pelo PSL e integrou o grupo técnico de transição do Ministério da Educação, à época coordenado por Ricardo Vélez. É defensora do uso de cloroquina e do isolamento vertical, pautas defendidas pelo presidente da República.

Osmar Terra
Médico e deputado federal, Terra foi ministro da Cidadania até fevereiro. Deixou o cargo devido à insatisfação de Bolsonaro com a atuação do ministério nos programas sociais, principalmente em relação ao Bolsa Família, que passou a acumular filas. Ainda assim, compactua com a agenda moral do presidente da República, inclusive o afrouxamento do isolamento.
Escolha um cenário: em U,V,W ou L

Os analistas econômicos traçam vários cenários de recuperação da economia pós-pandemia de Covid-19. Em webinar organizado pela Funpresp-Exe, o economista Aquiles Mosca, do BNP-Paribas, afirmou que, neste momento, considera uma recuperação em “U” a mais provável — após mergulhar, a atividade econômica teria uma recuperação gradual.
O webinar foi realizado na última terça-feira (12/5) e faz parte de um conjunto de ações da fundação para levar orientação e informação de qualidade aos seus 95 mil participantes. Ainda segundo Mosca, estaríamos hoje na primeira metade da barriga do U. Uma recuperação em V — rápida, logo após a abrupta queda na atividade — é considerada improvável.
Para traçar seus cenários, o banco considerou a descoberta de uma vacina no segundo semestre deste ano e sua comercialização somente em 2021. Ou seja, a Covid-19 ainda assombrará o mundo (e o Brasil) por algum tempo, travando a economia.
O cenário em L, também considerado improvável, é o pior deles: após a ampliação do gasto público para socorrer as pessoas, o retorno à responsabilidade fiscal não ocorreria, levando à estagnação da atividade. O cenário em W seria aquele em que há retomada econômica, seguida de nova elevação dos casos de coronavírus, restauração das medidas de isolamento e, na sequencia, nova recuperação.
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