Protagonista em seis das oito eleições pós-redemocratização, o PSDB promove prévias inéditas para a escolha do pré-candidato à Presidência da República, neste domingo, pequeno como nunca. A disputa interna está entre os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), embora o nome do ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto esteja formalmente na chapa.
Nenhum dos três empolga e Dória, o mais bem colocado, alcança no máximo 5% nas pesquisas de intenção de voto. É muito pouco para quem teve 49% dos votos válidos em 2014 e até hoje é o único partido brasileiro a ter eleito e reeleito um presidente em primeiro turno (a disputa passou a ter dois turnos em 1994).
Independentemente do resultado, os tucanos sairão das prévias rachados e sem personalidade. Depois de o ex-governador Aécio Neves (MG) ter descido ao inferno por causa da Lava Jato, o partido apostou em Luciano Huck, dando voz a quem difamou a política. A busca de um outsider fracassou quando o apresentador preferiu ficar onde estava, na TV, em vez de subir no palanque.
Doria tentou se apresentar como candidato natural com o apoio dos “cabeças pretas”, como é chamada a ala mais jovem e majoritariamente paulista da legenda. Leva para o palanque a proximidade com empresários e resultados da gestão em São Paulo, mas ainda é considerado – sem trocadilho – um estranho no ninho político.
Leite tem apoio declarado de Aécio, do senador Tasso Jereissati (CE), dos tucanos gaúchos e baianos. É visto como a oportunidade de uma reoxigenação e rejuvenescimento do PSDB, ideal contraditoriamente defendido pelos “cabeças brancas”, os filiados mais antigos.
As prévias vão passar, mas a segunda-feira não deve trazer a paz ao PSDB. Caso Leite seja derrotado, a ala bolsonarista do partido, capitaneada por Aécio, ameaça debandar. Fala-se na saída de 14 dos 29 deputados federais – Leite diz que segue no PSDB independentemente do resultado. Se for Doria o perdedor, pode buscar outro partido para disputar a Presidência da República.
Saída pela esquerda
Outro movimento que demonstra a desidratação tucana é o de Geraldo Alckmin. Padrinho de Dória em 2016, quando o atual governador se elegeu prefeito da capital paulista, Alckmin está decidido a deixar o partido. Um movimento impensável até pouco tempo atrás dada a associação de sua imagem à cúpula tucana.
Adversário de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa presidencial de 2006, o ex-governador paulista vem sendo apontado como possível vice do petista em 2022, chapa improvável até 2018, quando as duas legendas eram os pólos da política brasileira.
Uma chapa Lula-Alckmin entusiasma o ainda tucano. No PT, teme-se que o mercado tenha preferência por Alckmin e trabalhe para desgastar Lula. No PSDB, ninguém admite, mas é um enorme constrangimento que o que possa ter sobrado para o partido seja uma vaga de vice na chapa petista para um de seus (ainda) maiores quadros.
Tapete para Bolsonaro

A resistência do PL em ceder poder ao presidente Jair Bolsonaro ruiu em menos de uma semana. O presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, recebeu o aval dos diretórios para finalizar as negociações que vão garantir a entrada de Bolsonaro ao partido. O PL fez um cálculo político – e financeiro – antes de decidir. Trocou os compromissos prévios de apoio em palanques estaduais por uma perspectiva de se tornar a segunda maior bancada da Câmara em breve.
Hoje o PL tem 42 deputados, mas espera alcançar 65 com a adesão dos bolsonaristas, ficando atrás apenas dos 81 de DEM e PSL, que estão em processo de fusão, e à frente dos 53 do PT. Quanto maior a bancada eleita para a Câmara dos Deputados, maior a fatia dos recursos do fundo eleitoral e do fundo partidário.
A ruptura mais sentida será em São Paulo. O PL já havia fechado apoio ao vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB), que disputará o governo do estado. Com a chegada de Eduardo Bolsonaro ao comando diretório paulista, a aliança será desmanchada. O efeito colateral poderá ser a saída dos sete deputados estaduais do PL, apoiadores do governador de São Paulo, João Doria.
É desejo de Bolsonaro lançar o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, para o governo de São Paulo. Mas o nome ainda é considerado desconhecido e precisará ser testado.
A vez de Pacheco

A PEC dos Precatórios, já aprovada pela Câmara dos Deputados, chegou ao Senado em fogo brando. No salão Azul do Congresso, o argumento de pressa para a votação – visando o pagamento de R$ 400 do Auxílio Brasil a partir de dezembro – não tem tanto eco. A maioria necessária de 49 votos dos 81 senadores, em dois turnos, não é garantida.
A oposição quer levar o debate da proposta para a Comissão de Constituição e Justiça antes da apreciação em plenário. Ou seja, ganhar tempo para a votação. O governo costurou um acordo para apreciar a proposta na CCJ na próxima quarta-feira (24/11) e a votação em plenário na terça-feira seguinte (30/11).
A emenda que permitirá o pagamento do Auxílio Brasil também autoriza o governo a furar o teto de gastos públicos, a partir de uma nova metodologia de cálculo. Serão mais R$ 90 bilhões para usar em 2022, ano eleitoral. Ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM/MG), pré-candidato à presidência da República, a forma e a velocidade da tramitação da PEC também é uma oportunidade de marcar posição.
Pacheco tem buscado o acordo e chegou a debater na reunião com líderes a proposta alternativa dos senadores Alessandro Vieira (Cidadania/SE), José Aníbal (PSDB/SP) e Oriovisto Guimarães (Podemos/PR), que excluiria todos os precatórios, cerca de R$ 90 bilhões, do teto de gastos e extinguiria as emendas de relator, pagas livremente para deputados e senadores que votam favoravelmente ao governo. Os governistas barraram a proposta, a pedido da equipe econômica, mas estão dispostos a ceder.
Relator da PEC, o líder do governo, senador Fernando Bezerra (MDB/PE), deve acatar mudanças no texto. Irá aceitar uma auditoria nos precatórios, garantir o pagamento do Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério) e tornar permanente o Auxílio-Brasil, na proposta com vigência prevista apenas até dezembro de 2022.
Se confirmada, as alterações vão exigir uma nova votação na Câmara, onde a PEC foi aprovada em meio a negociações que envolveram traições, inclusive de partidos contrários ao governo, e liberação de emendas. Foram R$ 3,3 bilhões empenhados apenas nas vésperas da votação. O resultado foi favorável ao governo: 312 votos a favor e 144 contra (quatro a mais do que o necessário), no primeiro turno; e 323 votos a 172, no segundo turno (15 a mais). A manobra é arriscada e um novo resultado positivo pode exigir do Palácio do Planalto um novo desembolso de emendas. Vai sair caro.
Enquanto o Legislativo não decide se o Executivo pode ou não furar o teto, longe da Esplanada o Auxílio Brasil começou a ser pago esta semana sem aumento. O valor é o mesmo do tempo em que o benefício se chamava Bolsa Família, pouco menos da metade dos R$ 400 prometidos pelo governo.
Para ficar de olho na semana que vem
– Na definição da data de filiação do presidente Jair Bolsonaro ao PL e na reação da bancada;
– Na tramitação da PEC dos Precatórios. O governo corre contra o tempo para ser autorizado a furar o teto de gastos, do contrário, não terá como pagar o Auxílio Brasil a partir de janeiro.
– No Supremo Tribunal Federal que começa a decidir se mantém ou derrubar a portaria do Ministério do Trabalho que impede as empresas de exigir a imunização conta a Covid de seus funcionários. A votação no plenário virtual começa dia 26. Os dez ministros têm até o dia 3 de dezembro para votar.
Para ver no fim de semana
– Com as férias se aproximando, vale uma boa olhada em Volta ao Mundo: Um guia irreverente (Editora Intrínseca), de Anthony Bourdain. Não se trata de uma pilha de nomes de restaurantes estrelados das maiores cidades do mundo, mas das impressões do cozinheiro e apresentador TV morto em 2018 sobre a cultura alimentar de dezenas de cidades de mais de 40 países.
Tem Paris e Nova York, mas também tem destinos insuspeitos como o Butão, na Ásia, ou Omã, na Península Arábica. Do Brasil, Bourdain dá dicas de Salvador, uma das culinárias mais recomendadas.