A participação do presidente Jair Bolsonaro na 76ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, incendiou o ambiente online no começo da semana. As pesquisas por “discurso de Bolsonaro na ONU” cresceram 1.000% durante nas 24 horas seguintes à fala, na manhã da segunda-feira, 20 de setembro, segundo dados do Google apurados pela Folha de São Paulo. Nesse mesmo intervalo, o nome do presidente do Brasil chegou a ser o segundo assunto mais buscado ao lado da sigla ONU no mundo.
No Twitter, os internautas subiram hashtags para mencionar a participação do chefe do Executivo no encontro de chefes de Estado. As hashtags #BolsonaroVergonhaDoBrasil (74 mil tuítes), #BolsonaroVergonhaMundial (15 mil tuítes) e #BolsonaroMente estiveram entre os assuntos mais comentados da plataforma, de acordo com a medição do site trends24 (ver quadro abaixo).

Observa-se que diferentes hashtags relacionaram-se ao longo do dia, tendo como foco o sentimento de vergonha despertado pelo discurso na ONU (as tags na cor laranja). Também teve força a ideia de que o presidente não falou a verdade, expressa pelas hashtags #bolsonaromente, #bolsonarolies, #bolsonaromentiroso e #bolsonaroliar, além de um movimento dos usuários que utilizaram a #impeachmentjá, #forabolsonarourgente e outras para pedir a saída de Bolsonaro do poder.
Os apoiadores do presidente conseguiram um empate. A #BolsonaroHeroiNacional também teve 74 mil tuítes, exaltando o discurso do presidente na ONU. O perfil @taoquei1 (629,9 mil seguidores) aparece como destaque entre os principais grupos que utilizaram hashtags pró-Bolsonaro. Um desses tuítes gerou 25,8 mil curtidas, 6,7 mil compartilhamentos e 2,4 mil comentários (ver gráfico abaixo).

Além dos usuários comuns, ministros e parlamentares, demonstraram seu apoio ao tom e ao teor do discurso do presidente na ONU, entre eles: Carla Zambelli (PSL/SP), Bia Kicis (PSL/DF), Bibo Nunes (PSL/RS), Ricardo Barros (PP/PR) e os ministros Fábio Faria (Comunicações); Damares Alves (Mulher, da Família e dos Direitos Humanos) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria Geral da Presidência da República).
Para os apoiadores, o discurso foi importante, pois reiterou os compromissos do governo com as principais pautas do governo, segundo esses apoiadores: a defesa da Amazônia; a não obrigatoriedade da vacina contra a Covid-19, o repúdio ao socialismo e o combate à corrupção e à manipulação da mídia.
Os fatos se impõem ao calendário
O senador Renan Calheiros (MDB-AL) tinha programado a apresentação do relatório da CPI da pandemia para ontem (23). Mas os fatos, sempre eles, se impuseram. A revelação pela imprensa de que a empresa Prevent Senior, de plano de saúde e assistência médico-hospitalar, poderia ter adulterado prontuários de pacientes submetidos a tratamentos precoces – e ineficazes – contra a Covid-19, levou a uma espécie de terceira fase da CPI. A primeira, centrada na política de enfrentamento da pandemia pelo governo federal, deu lugar às investigações sobre as suspeitas de corrupção na compra de vacinas.
Caminhava-se para o final quando vieram à tona as informações sobre a Prevent Senior. Além dos depoimentos de novos atores dessa fase, a CPI aguarda uma posição do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para decidir se convoca ou não Jair Renan Bolsonaro, o filho 04 do presidente da República, que usou as redes sociais para, na opinião da maioria oposicionista da CPI, ameaçar os integrantes da Comissão. A crise está contratada.
Apesar da pressa de Renan, a CPI pode funcionar até novembro.
600 mil mortos
Ao longo da próxima semana o número de mortos pela Covid-19 deve chegar aos 600 mil. Dos 5,5 mil municípios brasileiros, apenas 35 têm populações superiores a tanta gente. Sete capitais estaduais têm menos habitantes. Um ano e meio depois da primeira morte registrada no Brasil, é como se Juiz de Fora MG) ou Joinville, o maior município catarinense, tivesse sido riscada do mapa.
A lei e as eleições
A próxima semana é a última para que o Congresso aprove – e o presidente da República sancione – qualquer mudança da legislação eleitoral a tempo de valer para 2022. O mais provável é que tudo fique como está. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), entende que o tempo é muito curto para a apreciação detalhada do texto da PEC. O maior risco seria a volta das coligações nas eleições parlamentares, um retrocesso que só beneficiaria os partidos de aluguel. Os partidos vão poder se associar em torno das candidaturas majoritárias, mas terão de seguir isoladas para eleger suas bancadas federais e estaduais.
Para ficar de olho na semana que vem
– No avanço da fusão do DEM com o PSL, que pode dar novo respiro aos defensores da Terceira Via
– Nas manobras para permitir a volta das coligações. A votação da PEC na Câmara dos Deputados pegou a oposição de surpresa.
-Na movimentação do governador de SP, João Dória, para evitar o isolamento articulado por seu padrinho político, Geraldo Alckmin, de saída do PSDB, seu ex-secretário Gilberto Kassab (PSD) e seus adversários na disputa de 2018 Paulo Skaf (MDB) e Márcio França (PSB).
Para ficar de olho no fim de semana
A Casa (Netflix, 2020). O filme mostra do que o publicitário desempregado Javier Muñoz é capaz para recuperar o status perdido ao se dar conta de que ainda guarda uma cópia da chave do apartamento em que a família vivia nos tempos de fartura.