
Faça o que eu digo, mas não o que eu faço: Boris Johnson e a crise de credibilidade pela falta de liderança pelo exemplo
Quando executivos ou representantes de uma sociedade querem motivar os demais a seguir uma nova regra, abraçar uma ideia ou contribuir para um propósito, eles devem – além de estabelecer esta nova prática – segui-las. Apesar de isso parecer óbvio, a falta de coerência entre discurso e realidade provocou uma crise de imagem envolvendo Boris Johnson, primeiro-ministro britânico, após virem à tona áudios e uma imagem de festas de Natal realizadas na sede do governo inglês em 2020. Os fatos evidenciaram a violação das regras de isolamento social impostas pelo próprio governo à época – quando era proibido que cidadãos ingleses de diferentes residências se visitassem.
O resultado: em uma pesquisa do YouGov, que afere a opinião pública no país, 70% dos britânicos disseram não confiar em Johnson para tomar decisões acertadas para o enfrentamento da Covid-19. Outro dado preocupante é que um a cada cinco britânicos não se mostram dispostos a seguir as novas normas de restrição impostas devido ao avanço da Ômicron, enquanto, nesta semana, o país registrou a primeira morte comprovadamente causada pela nova variante.
Johnson – e o governo britânico como um todo – teve ferida sua credibilidade por ter falhado em pontos cruciais, o que pode ter reflexo imediato no cumprimento das medidas sanitárias no país por parte da população. O “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” soa para os cidadãos como falta de verdade, falta de empatia e quebra de confiança.
Coerência de discurso e liderança pelo exemplo andam juntas para criar reputações fortes numa época em que o mundo já está cercado por ameaças e incertezas.

Conflitos entre influencers e marcas na China gera nova tendência do marketing de influência
Apesar de os números comprovarem um momento de ascensão dos influencers em todo mundo, uma notícia vinda da China deixa em alerta este tipo de marketing. O país lidera a corrida para lançar tendências no cenário de constante transformação digital, sendo pioneiro, por exemplo, em pagamentos digitais, inteligência artificial e o live commerce – modalidade em que um influencer exibe produtos e serviços ao consumidor e o convence a consumir on-line. E, da mesma forma que os chineses anteveem as novidades, eles antecipam rupturas no setor – e isso já está acontecendo entre marcas e influenciadores.
Isso porque, ao mesmo tempo que os influencers se tornam players estratégicos e geram boas vendas, eles passam a exigir comissões e a barganhar para oferecerem os melhores preços aos seus seguidores. Eles também concentram as vendas nos seus canais, em vez de redirecionar os clientes para as páginas dos fabricantes. Os fatos têm desagradado empresários e os levado a apostar em streamers corporativos, que já representam 30% das lives realizadas na China, segundo a IResearch. Este percentual tende a chegar a 50% em 2023.
Enquanto o mundo observa com atenção a tendência, os números ainda mostram o domínio dos influencers no mercado de vendas virtuais e ótimas perspectivas para 2022. Segundo levantamento do Youpix, 85% das empresas concordam que trabalhar com influenciadores traz mais resultados que outros canais de comunicação digital. Cresce também a discussão a respeito da influência conversível, onde cada plataforma digital e social pode ser transformar em um marketplace.
O cenário geral revela que a velocidade das mudanças no mundo virtual é muito maior do que no mercado off-line – o que exige de empresas e organizações constantes atualizações para explorar as melhores oportunidades e se preparar para um futuro, que, no ambiente on-line, nunca pode ser considerado distante.

Caso de violência obstetrícia vem à tona nas redes sociais e provoca outras denúncias contra médico conceituado
O forte poder de alcance das redes sociais é importante e se comprova não apenas na venda de ideias ou produtos, mas no alto engajamento social capaz de provocar após a divulgação de crimes e fatos que impactam diretamente na vida das pessoas. Nesta semana, áudios compartilhados de forma privada pela influencer Shantal Verdelho acabaram vazando e revelaram que ela sofreu violência durante o parto de sua filha, ocorrido em setembro deste ano, e que tudo estaria gravado no vídeo que registra o nascimento do bebê.
A veloz disseminação do material, no qual Shantal alega que foi xingada e humilhada pelo obstetra Renato Kalil – um dos mais famosos e conceituados do Brasil – gerou repercussão imediata na imprensa e encorajou a escritora Tati Bernardi e a jornalista Samantha Pearson, do Wall Street Journal, a também denunciarem o médico por condutas similares. Mulheres que, mesmo sendo conhecidas no país e tendo acesso aos meios de comunicação, tinham medo de expor seus casos e serem desacreditadas.
Cabe, agora, à polícia e ao Judiciário, respectivamente, a condução das investigações e a determinação de eventuais punições. Mas, o fato é que as redes são também uma ferramenta de impulsionamento de mudanças sociais por meio do engajamento que provocam. Tudo que é ali postado tem uma capacidade de amplificação em larga escala – para o bem e para mal – e todos precisamos estar atentos e fazer o melhor uso disso.

Maior marca de laticínios da Coréia do Sul se desculpa por nova campanha que associa vacas a mulheres
A análise de contexto sempre foi um passo importante na construção de um case de sucesso no mercado da comunicação. Não dá para comunicar somente por comunicar. Uma ideia não é simplesmente uma ideia. Nesse sentido, o pedido de um cliente em um briefing deve ser analisado dentre os mais diversos cenários e todos os impactos dos caminhos apontados devem ser mensurados. Faltou esse cuidado na última campanha da “Seoul Milk”, empresa de laticínios da Coréia do Sul.
Com a intenção de homenagear o público feminino, segundo o briefing, a empresa divulgou um vídeo de campanha em que um grupo de mulheres aparece em um campo, sendo filmadas por um homem. A locução do “cinegrafista” relata a pureza daquelas mulheres e a dieta natural e livre de estresse delas. Em um dado momento, todas são transformadas em vacas. A ideia de fazer uma homenagem comparando as mulheres à doçura dos animais gerou, como era de se esperar, uma repercussão muito negativa nas redes sociais.
Contudo, levou uma semana para a empresa retirar o vídeo do seu canal do Youtube. Tempo suficiente para o anúncio viralizar e choverem críticas e ironias à condução errônea da estratégia que resultou na campanha. Uma das postagens ironizava: “ CEO da Seoul Milk: quero que todos no mundo falem sobre o nosso leite”, enquanto o departamento de propaganda respondia: “ Entendemos a missão”. Compreendida a demanda, mas se esqueceram dos diversos contextos. Além da questão do sexismo, a campanha foi criticada também por incitar crime, ao ser comparado com o “molka”, prática ilegal onde homens filmam mulheres sem consentimento.
A empresa retirou os vídeos do ar, pediram desculpas pelos constrangimentos causados, e não tentou justificar a ação desastrosa. O gerente de marketing da Seoul Dairy Cooperative, o chefe da agência de relações públicas, o diretor do evento e as modelos foram multados por obscenidade, segundo o jornal The Korea Herald.