Muita calma nesta hora, senhor analista. É consenso. Qualquer análise política, hoje, tem de ser feita com o cuidado e a consciência de que estará incompleta de qualquer maneira, correndo o risco de ter de ser burilada ou totalmente refeita no dia seguinte. O coronavírus ensinou que a ânsia por respostas imediatas precisa ser substituída pela sabedoria do acompanhamento preciso, o monitoramento detalhado dos movimentos políticos dia após dia. Sem pressa. Afinal, chove torrencialmente sobre o tabuleiro de xadrez.
A Covid-19 não trouxe apenas isolamento social, doença e morte. Transformou completamente o cenário mundial, com reflexos profundos no cenário político e econômico nacional. Na pandemia, com curvas que não se conhece completamente, cada dia é um dia. Ninguém esperava o cisne negro. Forças e fortalezas de todas as instituições têm aparecido mais neste momento. É como se uma grande lupa tivesse sido coloca diante de cada um. Sem paradigmas, não há como se tirar conclusões rápidas nem absolutas. A ordem é observar.
Mesmo tratando-se de flexibilização do isolamento social, grandes e pequenas empresas permanecem revendo os planos de negócios para o longo prazo. Parlamentares, membros do Executivo, do Judiciário vão se adequando à democracia virtual, aos plenários realizados via videoconferência. Mas precisam medir cada voto dado, cada palavra pronunciada. Pautas que eram prioritárias, de uma hora para outra, deram espaço para o debate sobre um orçamento de guerra. Agendas reformistas como a tributária, ficaram para mais tarde.
Tudo pode mudar muito rapidamente. A Saúde era a protagonista da agenda político-midiática até semana passada. A troca de ministros e a chegada de um comandante para a pasta com perfil mais técnico, abriu espaço na divulgação governamental. Foi totalmente ocupado nos últimos dias pelo programa Pró-Brasil, coordenado pelo ministro-chefe da Casa Civil, general Walter Braga Netto, com contribuições grandes do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas.
Muitos se assustaram, com a possível e aparente mudança de pilares no governo federal. Paulo Guedes, ministro da Economia e sua equipe não parecem participar do Pró-Brasil. As equipes, entretanto, permanecendo focadas em temas fundamentais como o auxílio emergencial para autônomos.
Forças se realinham. Revezes impressionam. Novidades surpreendem. É nesse momento de transformação que as relações governamentais estão acontecendo e que a política está sendo praticada. Monitorar é a chave para o momento. E as estratégias de relacionamento com o poder público precisam ser calibradas e ajustadas constantemente.
As redes sociais a cada minuto

Cada vez mais o potencial das redes sociais têm sido entendido por políticos e profissionais de Relações Institucionais e Governamentais. Embora adorem o Instagram e o Twitter, muitos deputados federais mais jovens baixaram o Tik Tok para encantar os eleitores. Selfies no Salão Verde e no Salão Azul não estão podendo ser feitas neste momento, mas os políticos têm dividido informações e debatido ideias em seus perfis. Naturalmente, a Covid-19 tem levado até os mais tradicionais senadores a explorar a comunicação digital. Vale a pena dar uma olhada no que acontece na internet a cada 60 segundos.
Arena de Ideias discute a democracia virtual

As relações com os poderes públicos ganharam um novo foco desde que a Covid-19 decretou a necessidade de isolamento social em Brasília. Também as articulações no Congresso Nacional, os debates, votações e apartes tiveram de se adaptar à moldura das ferramentas de videoconferência. Por um lado, perdeu-se o aperto de mãos, o olho no olho; por outro lado, está sendo possível “entrar” nas casas dos políticos, conhecer escritórios, móveis, ver ainda mais de perto seus semblantes ao se preparar para uma votação.
Plenário Virtual e as transformações pelas quais as Relações Governamentais estão passando foi tema de hoje (23/4) de Arena de Ideias, webinar da In Press Oficina. Participaram o servidor da Câmara dos Deputados, responsável pelo programa e-Democracia, Cris Ferri, também professor de Democracia Virtual do Centro de Formação (Cefor); e Disraelli Galvão, diretor de Relações Governamentais e Institucionais da Ambev. Pela In Press Oficina, estavam a sócia-diretora Patrícia Marins e a Diretora de Relacionamento com os Poderes Públicos, Fernanda Lambach.
Disraelli contou como os times de relações governamentais e institucionais das empresas, nesse momento, assumiram papel absolutamente vital. “Agora, trata-se menos de advogar por causas específicas dos setores e mais de buscar relações colaborativas com o poder público, que ajudem a mitigar os impactos na saúde pública e atenuar os impactos econômicos e sociais dos vários extratos da população que estão sendo fortemente afetados por essa crise que se abate em todo o mundo.”
Ação Social
A Ambev produziu e já distribuiu mais de um milhão de frascos de álcool gel para hospitais públicos de todos os estados do país. “Aí você me pergunta: onde entra o time de relações governamentais e institucionais? Para a produção de álcool gel há uma forte regulamentação da Anvisa. A nossa empresa iniciou um movimento para que a Anvisa, de forma excepcional e respeitando todas as regras sanitárias, permitisse que, nesse momento extraordinário, nos permitissem adaptar nossas fábricas para produzir álcool gel, álcool esse extraído das nossas cervejas.” A Ambev também produziu álcool 70% e distribuiu água potável para comunidades do Rio de Janeiro.
Social listening
Patrícia Marins destacou a importância da comunicação para apoiar os profissionais de relações governamentais. Em resposta a perguntas de um espectador, tratou do social listening (monitoramento do que é dito nas redes sociais). “Você tem “ene” indicadores para saber efetivamente o que está sendo dito nas redes sociais e qual é o impacto na sua organização para poder, a partir daí, decidir uma estratégia ou criar uma narrativa, um repertório, fazer uma abordagem.”
Segundo Patrícia, o social listening é fundamental para que uma empresa não embarque em crises que não existem ou seja alertada para possíveis crises que estejam se avizinhando. Para ela, é muito importante pensar no social listening o mais aberto possível. “As pessoas tinham antes a intenção de ficar simplesmente monitorando aquilo que se fala sobre elas e isso acaba te cercando, colocando numa bolha. Tem de abrir isso, ir para o contraditório”, declarou Patrícia.
Parlamento brasileiro na frente
Cris Ferri relatou como o Parlamento brasileiro saiu frente dos parlamentares de outros países, embora tenha muito ainda a evoluir em democracia virtual. “O Parlamento brasileiro foi o primeiro do mundo a inaugurar esse sistema de deliberação online. Orgulho para nós. Conseguiu viabilizar. Temos parlamentos como o Canadá patinando ainda. A Estônia, que é o frenesi do governo digital, tem lá uma lei que proíbe a deliberação à distância. Os Estados Unidos também quebrando a cabeça. E nós conseguimos fazer isso muito bem e de maneira segura.”
Para o especialista, pesquisador do Massachusetts Institute of Tecnology (MIT), não deve haver preocupação com essa história de raqueamento das deliberações digitais. “Tenho mais medo dos robôs das redes sociais. Esses são realmente muito perigosos: essa combinação de robô de redes sociais com as fake news, agora no seu formato de deep fake news. Isso sim é o que há de mais perigoso para a nossa democracia hoje.”
Ibaneis quer espaço entre caciques do MDB

Ao se alinhar com o presidente da República, Jair Bolsonaro, e colocar o Distrito Federal como um primeiro modelo para as políticas de retomada gradual das atividades econômicas, Ibaneis busca se consolidar entre os grandes nomes do MDB.
Hoje, muitos nomes do partido estão fora dos palcos, restritos aos bastidores. Políticos experientes como Romero Jucá, Eunício Oliveira e Edison Lobão não se elegeram, mas ainda participam das grandes articulações de bastidores. Jucá, por exemplo, abriu uma consultoria e é figura constante nos corredores do Congresso Nacional. O próprio senador Renan Calheiros, ex-presidente do Senado, tem mantido postura discreta.
Para voltar ao centro do poder, entretanto, os velhos quadros têm estimulado que jovens encabecem as discussões. Desde a chegada de Baleia Rossi (SP) à liderança, o MDB vive um momento de renovação dos seus quadros na busca de voltar ao centro do poder. Não à toa, Baleia recebeu a missão, das mãos do presidente da Câmara dos Deputados (DEM/RJ) para ser o autor do projeto de lei da Reforma Tributária.
No entanto, o trabalho de Ibaneis não será fácil. A seu favor, o bom trânsito que tem com o atual presidente do MDB, Baleia Rossi (SP), que já chegou a ventilar seu nome para uma candidatura à Presidência da República em 2022. Assim, após se eleger como um outsider, Ibaneis busca fortalecer sua rede de aliados e ascender na política nacional.
Era dos Extremos
Não sabemos para onde estamos indo. Só sabemos que a história nos trouxe até este ponto e por quê. Contudo, uma coisa é clara. Se a humanidade quer ter um futuro reconhecível, não pode ser pelo prolongamento do passado ou do presente. Se tentarmos construir o terceiro milênio nesta base, vamos fracassar. E o preço do fracasso, ou seja, a alternativa para uma mudança da sociedade, é a escuridão.
Eric Hobsbawn na obra Era dos Extremos — o breve século XX — 1914-1991, Companhia das Letras, 1994.
Coronavírus no Brasil
