A semana que deveria ser comemorada pelo governo como a que trouxe a aprovação do novo marco fiscal na Câmara dos Deputados, poderá ser mais lembrada como a semana na qual o governo Lula 3 teve exposta de forma brutal a sua fragilidade no Congresso, com uma espécie de “semipresidencialismo”, na prática.
Em dois sinais opostos, os deputados aprovaram a âncora fiscal ansiada pelo governo, mas ao mesmo tempo impuseram derrotas fragorosas em medidas provisórias que tramitam na Câmara. Com isso, mostraram que aprovam o que desejam, e não o que o governo quer, e não se intimidam com as críticas de movimentos organizados da sociedade afeitos a pautas como as de sustentabilidade.
E não se pode dizer que foi um movimento oposicionista, pois seu principal protagonista, o chamado Centrão, que reúne a parcela mais conservadora do parlamento federal, tem em suas fileiras membros de partidos aliados do governo.
O recado foi completado com declarações do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sobre a necessidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva “adaptar-se ao novo momento”, ou seja, submeter-se aos parlamentares, aceitando a nova correlação de forças criada com a eleição de um Congresso ainda mais conservador que o anterior.
As principais vítimas aparentes foram as políticas ambiental e indígena, cujos ministérios perdem poderes na nova estrutura de seus ministérios.
Mas a consequência desse embate vai além dessas áreas e traz sombra sobre o futuro do governo, que dependerá de negociações cada vez mais custosas em verbas e cargos e da boa vontade do Centrão para implementar suas pautas.
Lula, em declaração dada na sexta-feira, procurou minimizar as avaliações pessimistas, disse que “agora é que começou o jogo” e que ninguém deve ser assustar com a política, e é na política que os problemas serão resolvidos.
Nesta sexta-feira, o presidente Lula reuniu-se com diversos ministros, especialmente Marina Silva, do Meio Ambiente, e dos povos indígenas, Sônia Guajajara, para discutirem como enfrentar a crise.