
O Palácio do Planalto tem pressa na aprovação da PEC Kamikaze, que aumenta o valor do Auxílio Brasil de R$ 400,00 para R$ 600,00, dobra o vale-gás e cria vales para caminhoneiros e taxistas, com validade até dezembro. Cada semana de atraso significa menos tempo para o dinheiro cair no bolso do eleitor e se transformar em voto para Jair Bolsonaro. Em 2020, o pagamento do abono emergencial só fez a popularidade do presidente subir no quarto mês de pagamento do abono.
É preciso considerar ainda que o poder de compra do auxílio emergencial era muito maior do que será o do Auxílio Brasil reajustado. Há dois anos, com R$ 600,00 era possível comprar uma cesta básica em todas as 17 capitais brasileiras pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos (Dieese). A mais cara era vendida em São Paulo por R$ 556,25. A mais barata custava R$ 401,37, em Aracaju.
Hoje, com a inflação em alta, a cesta básica só custa menos de R$ 600,00 em Aracaju, João Pessoa, Natal, Recife e Salvador. Na capital paulista, sai por R$ 777,93, seguida muito de perto por Florianópolis e Porto Alegre. O governo conta ainda com a redução do preço dos combustíveis nas próximas semanas para fazer com que a sensação de alta contínua do custo de vida diminua até as eleições.
Tragédia

Enquanto o governo corre para tirar proveito eleitoral de auxílios e vales a seis meses do final do mandato, o Brasil voltou ao Mapa da Fome pelo que não foi feito nos últimos anos. De acordo com o relatório divulgado na última terça-feira (05/07) pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), 61 milhões de brasileiros enfrentaram dificuldade para se alimentar entre 2019 e 2021. Desse total, 15 milhões passaram fome.
O Brasil tinha saído do Mapa da Fome em 2015, quando foi divulgado o relatório anterior, mas voltou em 2018. Entre 2014 e 2016 eram menos de 4 milhões em insegurança alimentar grave. Um país entra no Mapa quando mais de 2,5% de sua população sofre de falta crônica de alimentos. Hoje, são 4,1% de brasileiros nessa situação, segundo a FAO.
Ficção

Caso fique para depois das eleições, a CPI do MEC, que pretende investigar a atuação de um suposto gabinete paralelo e o favorecimento de pastores pelo ex-ministro Milton Ribeiro, será apenas ficção. Se Jair Bolsonaro for reeleito, os senadores não terão força para investigar um presidente que acaba de ser endossado pelas urnas. Em caso de derrota de Bolsonaro, os novos senadores não vão perder tempo atrás de provas contra um governo terminal.
Por isso, a oposição no Senado deve ir ao STF para forçar o início imediato dos trabalhos. O recurso foi utilizado com sucesso no ano passado e levou à abertura da CPI da Pandemia, contra a vontade do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD). Mais cioso da própria imagem, agora Pacheco até leu o requerimento de instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito, mas opera para adiá-la o máximo possível. Com sua ajuda, o Palácio do Planalto vem levando a melhor até agora.
Propaganda antecipada

Os programas eleitorais de rádio e TV começam somente dia 16 de agosto, mas Jair Bolsonaro deu um jeito de sair na frente: baixou um decreto que obriga os postos de todo o Brasil a expor os preços dos combustíveis cobrados antes e depois da redução do ICMS. Se não for barrada pela Justiça, será uma peça de propaganda poderosa a menos de três meses do primeiro turno.
As placas vão mostrar uma redução significativa de preços e vão transformar os donos de postos em cabos eleitorais do presidente. Mas, ao contrário da PEC Kamikaze, que encurralou a oposição obrigando-a a votar a favor de uma medida eminentemente eleitoreira, deve haver recurso à Justiça contra a ordem presidencial.
Na segunda-feira (11/07), fiscais da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacom) do Ministério da Justiça e da Agência Nacional do Petróleo (ANP) saem às ruas para cobrar o cumprimento do decreto presidencial.