
A troca do gabinete pelo palanque é a opção de quase metade dos ministros. O presidente Jair Bolsonaro abrirá na semana que vem as conversas para a escolha dos substitutos. Os demissionários deverão entregar um plano de trabalho para o resto do ano. Quem tem mandato, volta ao cargo no Congresso. Que não tem, pode se dedicar só à pré-campanha, sem a estrutura que usufruía no cargo.
Três ministros devem ser candidatos a governador, cinco a senador e um a deputado federal, além do que pode ser o vice de Bolsonaro. O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, será candidato a senador pelo Rio Grande do Sul. Para tanto, já trocou as máscaras de proteção facial com o emblema do Flamengo por outras com a bandeira gaúcha. Mourão segue no cargo, mas a partir de 2 de abril fica impedido de assumir a presidência interinamente para não se tornar inelegível. Quando Bolsonaro sair do Brasil, Mourão também terá de viajar ao exterior.
Como quem assumir a Presidência da República interinamente de abril a outubro fica inelegível, o Brasil deve assistir a um revezamento entre o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, na cadeira presidencial. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), segundo na linha de sucessão, é candidato à reeleição.
Marcelo Queiroga (Saúde) não obteve apoio para ser candidato e deve ficar. Anderson Torres (Justiça) e Fábio Faria (Comunicações) atenderam a um apelo do presidente e desistiram da candidatura. Mantidos os nomes cotados, a reforma ministerial trará curiosidades: três novos ministros chamados Marcelo e um novo Paulo Guedes, homônimo do ministro da Economia.
Na construção da reta final do mandato, Bolsonaro, por enquanto, dá preferência a nomes já no governo, mas pode ceder a pressões e indicar nomes do Centrão e até recriar ministérios, como o do Esporte, abrindo mais vagas na Esplanada.
Veja abaixo os nomes do primeiro escalão que deverão sair, quais cargos pretendem disputar e os mais cotados para substituí-los:
MINISTRO | CARGO PRETENDIDO | PROVÁVEL SUBSTITUTO | CARGO ATUAL |
Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) | Governador de São Paulo | Marcelo Sampaio | Secretário-executivo |
João Roma (Cidadania) | Governador da Bahia | Marcelo Magalhães | Secretário Especial do Esporte |
Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) | Senador pelo Rio Grande do Norte | Pedro Guimarães | Presidente da Caixa Econômica Federal |
Braga Netto (Defesa) | Vice-presidente da República | Almirante Almir Garnier | Comandante da Marinha |
Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência Social) | Governador do Rio Grande do Sul | Bruno Dalcomo | Secretário-executivo |
Tereza Cristina (Agricultura) | Senadora pelo Mato Grosso do Sul | Marcos Montes | Secretário-executivo |
Gilson Machado (Turismo) | Senador por Pernambuco | Paulo Guedes Landim de Carvalho | Assessor da Presidência da Embratur |
Flávia Arruda (Secretaria de Governo) | Senadora pelo Distrito Federal | Célio Faria | Chefe de gabinete da Presidência da República |
Damares Alves (Mulher, da Família e dos Direitos Humanos) | Senadora pelo Amapá | Tatiana Alvarenga | Secretária-executiva |
Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) | Deputado federal por São Paulo | Marcelo Morales | Secretário de Pesquisa e Formação Científica |
Reação Tardia

Na tentativa de frear o preço dos combustíveis, o Congresso se apressou e, a toque de caixa, aprovou a criação um pacotão de medidas para reduzir os impactos nas bombas. O senso de urgência veio somente depois do anúncio da Petrobras de aumento de 18,8% da gasolina, de 24,9% do diesel e de 16% do gás de cozinha, sob a justificativa do aumento no petróleo no mercado internacional em função da guerra na Ucrânia.
Os parlamentares criaram a Conta de Estabilização de Preços de Combustíveis (CEP), que será usada sempre que os valores mínimos e máximos do preço dos combustíveis e do gás ultrapassarem o limite fixado pelo governo. Além disso, o ICMS sobre os combustíveis passa a ter uma alíquota única em todo o país e o imposto será calculado a partir de um valor fixo sobre o litro.
O auxílio-gás passa a ser pago a 11 milhões de famílias – antes eram 5,5 milhões.
Motoristas, motociclistas e pilotos de pequenas embarcações com renda de até 3 salários-mínimos ganharão um auxílio temporário mensal, entre R$ 100 e R$ 300, para compra de combustível. O valor, que será limitado a R$ 3 bilhões só será liberado se houver disponibilidade no orçamento.
Como a lei proíbe a concessão de benefícios em ano eleitoral, o pagamento só poderá ser feito a partir de 2023. Mas o aumento generalizado começou a ser sentido no bolso desde ontem (10/3), com brigas nos postos de combustíveis Brasil afora.
Afetados pela mudança no ICMS, os governadores também reagiram rápido e vão Supremo Tribunal Federal tentar evitar perda de arrecadação.
Naufrágio

Criada como uma espécie de antídoto ao inchaço do sistema partidário brasileiro – hoje com 33 partidos e outros 77 em formação -, a federação fracassou ao apresentar um número tímido de legendas dispostas a se juntar por pelo menos quatro anos. Até o momento, apenas o Cidadania se uniu ao PSDB. O MDB vai seguir sozinho, mesma direção tomada pelo PSB e PDT.
Os pessebistas, aliás, devem filiar nos próximos dias o ex-tucano Geraldo Alckmin para ser vice na chapa de Lula (PT). Mas o apoio será ao modo tradicional, sem compromisso da manutenção de uma aliança duradoura, sobretudo nos estados e municípios. No âmbito nacional haverá uma agenda comum. A consequência disso será a tendência de um palanque duplo de Lula em São Paulo, principal motivo para a desistência da federação. Márcio França (PSB) e Fernando Haddad (PT), em vez de unir forças – e votos – serão adversários na disputa pelo governo estadual.
Por questão de sobrevivência, os partidos de esquerda PCdoB e PV se uniram ao PT. Pela nova lei, a partir deste ano todos os partidos precisarão ter pelo menos 2% dos votos válidos, distribuídos em um terço dos estados, ou conseguir eleger 11 deputados federais por pelo menos nove unidades da federação para superar a cláusula de barreira. Sem esse desempenho, nada de fundo partidário e ao tempo de propaganda na TV e no rádio. Na prática é: sem dinheiro, fim do partido.
O prazo estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal para formar as federações termina em 31 de maio. Mas, pelo andar das negociações, a lei entra na galeria das que existem, mas não pegaram.
Falas desastrosas

As declarações sexistas do deputado estadual Arthur do Val (sem partido) – “ucranianas são fáceis porque são pobres” – serviram de gatilho para falas igualmente desastrosas de autoridades públicas. O Dia Internacional da Mulher era para ser de homenagem, mas o presidente Jair Bolsonaro disse que as mulheres estão “praticamente integradas à sociedade”. Logo depois, o procurador-geral da República, Augusto Aras, declarou que elas têm o “prazer de escolher a cor das unhas e o sapato”. Aras se desculpou dizendo ter sido mal compreendido.
A verborragia oficial não parou por aí. O ministro da Educação, Milton Ribeiro, fez críticas ao ensino de diversidade sexual: “Não tem esse negócio de ensinar você nasceu homem, pode ser mulher. Nós não vamos permitir que a educação brasileira vá por um caminho de tentar ensinar coisa errada para as crianças. Coisa errada se aprende na rua. Dentro da escola, a gente aprende o que é bom, o correto, o civismo, o patriotismo”. O ministro é réu em investigação sobre homofobia por ter associado orientação sexual a “famílias desajustadas”.