
Com números estagnados nas pesquisas eleitorais, o presidente Jair Bolsonaro volta as atenções para os policiais, considerados base estratégica para o projeto de reeleição em 2022. A Polícia Federal foi a primeira beneficiada com o afago. A reestruturação da corporação e a concessão de plano de saúde foram anunciados na quinta (16/12) num evento de formatura. O diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Gustavo Maiurino, agradeceu o gesto e permitiu, mesmo num ambiente sem distanciamento social, que os agentes presentes pudessem tirar a máscara – e foi prontamente atendido.
Bolsonaro também quer reajustar salários da PF, Polícia Rodoviária Federal e do Departamento Penitenciário Nacional (Depen). O Ministério da Economia já está com os cálculos em mãos: R$ 2,8 bilhões no próximo ano e R$ 11 bilhões até 2024. O relator do Orçamento de 2022, deputado Hugo Leal (PSD/RJ), foi acionado para fazer ajustes no texto.
O reajuste às polícias será levado à corrida presidencial por Bolsonaro, mas também será a bandeira do ministro Anderson Torres. Delegado, ele pretende se candidatar a deputado federal pelo Distrito Federal.
Polícia na política?

A Polícia Federal, aliás, ocupou posição no debate eleitoral ao cumprir mandados de busca e apreensão contra o pré-candidato presidencial do PDT Ciro Gomes, e de seu irmão, o senador Cid Gomes (PDT/CE). A operação Colosseum apura o pagamento de R$ 11 milhões em propinas supostamente pagas a agentes políticos e servidores públicos durante a licitação da Arena Castelão, em Fortaleza, entre 2010 e 2013.
Ciro reagiu acusando o presidente Jair Bolsonaro de aparelhar a polícia visando ganhos políticos. “Bolsonaro transformou o Brasil num Estado Policial que se oculta sob falsa capa de legalidade”, declarou, negando a acusação.
O caso provocou a solidariedade do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva. “Quero prestar solidariedade ao senador Cid Gomes e ao pré-candidato a presidente Ciro Gomes, que tiveram suas casas invadidas sem necessidade, sem serem intimados a depor e sem levar a trajetória de vida idônea dos dois. Eles merecem ser respeitados”, declarou.
O episódio teve como consequência uma reaproximação de ambos. Alas do PDT veem o movimento como saudável e, diante da situação de Ciro que não decola nas pesquisas e não se viabiliza candidato da terceira via, pressionam pela desistência da candidatura. A decisão, por sinal, tem até prazo para ser tomada: março de 2022.
Ainda na disputa, Ciro recebeu um apoio improvável. Cabo Daciolo (PMB) – do “Glória a Deus” – desistiu da candidatura e declarou apoio ao ex-governador do Ceará.
Nem tudo são flores

O clima com a Polícia Federal não é apenas de lua de mel com Jair Bolsonaro. O presidente foi intimado a depor no inquérito que apura a divulgação de uma investigação sigilosa da PF. Em entrevista, ele citou e depois publicou nas redes sociais o documento tratava de um ataque hacker nos sistemas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2018. Ele ainda vai agendar o depoimento que poderá ser por escrito. Numa derrota política, o governo vê o general Fernando Azevedo assumir a direção-geral do TSE. O ex-ministro da Defesa foi demitido por ser considerado desalinhado com o Palácio do Planalto.
Já Jair Renan, filho 04 de Bolsonaro, prestará depoimento à PF sobre o inquérito que investiga possíveis pagamentos de propina por empresários em contratos do governo. Ele é suspeito de tráfico de influência. Em outubro do ano passado, Jair Renan ganhou um carro elétrico avaliado em R$ 90 mil por um grupo empresarial que atua nos setores de mineração e construção. Após o presente, empresários conseguiram reunião com o governo. Um dos personagens da investigação é Allan Gustavo Lucena, amigo do filho de Bolsonaro, e investigado no inquérito das milícias digitais.
Além disso, a PF dará seguimento ao inquérito contra Bolsonaro por associar vacina da Covid-19 à Aids. O procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu o arquivamento, mas o ministro Alexandre de Moraes manteve a investigação.
Exame incômodo

A contragosto, o presidente Jair Bolsonaro fez o exame de Covid-19 – com resultado negativo – para acompanhar a cerimônia de posse de André Mendonça novo ministro do Supremo Tribunal Federal nesta quinta-feira (16/12). Após 5 meses de espera, o ministro “terrivelmente evangélico” chegou à Corte. Bolsonaro e a primeira-dama, Michele, foram discretos e usaram máscara durante o evento. Pastor presbiteriano, André Mendonça trocou o tradicional jantar de comemoração por um culto.
Bolsonaro esteve presente no STF num dia de derrota parcial sobre a obrigatoriedade do passaporte da vacina para entrar no Brasil – assunto sobre o qual é contra. A maioria dos ministros decidiram exigir o documento dos estrangeiros. Aos brasileiros, contudo, será permitido trocar a apresentação do passaporte vacinal por uma quarentena obrigatória de 5 dias com a apresentação de um exame negativo ao fim do prazo. O caso será decidido apenas em 2022 porque Nunes Marques – o outro ministro indicado para a Corte por Bolsonaro – pediu que a análise fosse para o plenário.
O clima voltou a ficar carregado depois dos ataques feitos pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno. Ele disse precisar “tomar dois Lexotan na veia por dia para não levar o presidente a tomar uma atitude mais drástica em relação às atitudes que são tomadas por esse STF que está aí”. A fala foi feita num evento fechado da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Heleno será convocado pelo Congresso para se explicar.
Explicações é o que a oposição vai pedir também para Bolsonaro. Em discurso para empresários na quarta-feira (15/12), o presidente disse que fez mudanças no Iphan após a interdição de uma obra da Havan, do empresário bolsonarista Luciano Hang. O caso deve ser alvo de novo pedido de inquérito no STF.
Vencedores ocultos

Antonio Anastasia deixa o mandato de senador por Minas Gerais para assumir o cargo vitalício de ministro do Tribunal de Contas da União, salário de R$ 37 mil, férias de 60 dias, apartamento funcional e com aposentadoria prevista para 2036. Mas ele não foi o único vencedor. Politicamente três personagens se fortaleceram: o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD/MG); Gilberto Kassab, presidente do PSD; e o deputado Aécio Neves (PSDB/MG).
Pacheco trabalhou pessoalmente pelos 52 votos obtidos por Anastasia, margem folgada para os adversários Kátia Abreu (PP/TO), 19 votos; e Fernando Bezerra (MDB-PE), 7 votos. Kassab também atuou, mas visando o crescimento do partido em Minas Gerais. O novo senador do Estado é Alexandre Silveira, atual diretor de assuntos técnicos e jurídicos do Senado, e que deve se candidatar à reeleição.
Atuando nos bastidores, Aécio também conseguiu o que queria. Anastasia é considerado um nome forte no Estado e poderia atrapalhar os planos do tucano de voltar à planície, concorrendo a governador e senador. Agora, Aécio terá um papel de mediador entre os bolsonaristas e Anastasia no TCU. Há um temor porque dois processos são desconfortáveis a Bolsonaro na Corte de contas: os gastos com cartões corporativos; e os custos das motociatas. Lanterna na disputa, Fernando Bezerra se sentiu traído pelo MDB e o Palácio do Planalto e deixou a liderança do governo no Senado.
Anastasia ainda não marcou a data da posse. Ele substituirá Raimundo Carreiro, que antecipou a aposentadoria para assumir a embaixada do Brasil em Portugal e abrir espaço para políticos no TCU.
Para ficar de olho na semana que vem
Na repercussão do jantar entre Lula e Geraldo Alckmin (e talvez Ciro Gomes, convidado depois da operação da PF) no domingo
Na votação do Orçamento de 2022 no plenário do Congresso Nacional
Na viagem de recesso do presidente Jair Bolsonaro. Ele deve ir a São Francisco do Sul (SC) No possível calendário de vacinação para crianças de 5 a 11 anos com doses da Pfizer