Governo deve ter alívio com fim da CPI da Pandemia/Marcelo Camargo; Agência Brasil
O relatório da CPI da Pandemia foi votado e o indiciamento de Jair Bolsonaro por nove crimes, aprovado esta semana. Os senadores prometem acompanhar de perto os desdobramentos dos trabalhos da Comissão nos órgãos de fiscalização e controle. Mas o pior momento para o presidente da República pode ter ficado para trás.
O procurador da República, Augusto Aras, deve manter-se fiel ao Palácio do Planalto, ainda mais com a vaga ainda aberta no Supremo Tribunal Federal. Aras não perde as esperanças de ter seu nome indicado em substituição ao ex-ministro da Justiça André Mendonça, que aguarda a sabatina do Senado há quase quatro meses.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), já se posicionou claramente contra o relatório da CPI que, a seu ver, extrapolou suas competências ao indiciar deputados. O constrangimento foi tal que os senadores não entregaram o relatório final a Lira, interrompendo uma procissão que passou pelos gabinetes de Aras, e dos presidentes do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, e do próprio Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Noutra frente, o noticiário longo e diário sobre a pandemia tende a diminuir com o fim das sessões da CPI. Com o avanço da vacinação, as cidades reabrem e os jornais, rádios e TVs dedicam cada vez menos espaço às infecções e mortes pela Covid. É provável que o ano eleitoral de 2022 seja mais parecido com 2019 do que com os dois últimos anos.
Caso a economia reaja com a reabertura integral e o governo consiga recursos para aumentar o Bolsa Família, o presidente deve recuperar algum fôlego. Pior para os pré-candidatos que disputam a faixa da corrida presidencial entre Lula e Bolsonaro, cada vez mais estreita.
Enquanto isso, na Europa…
O presidente Jair Bolsonaro desembarcou na manhã de hoje em Roma, onde participa da reunião do G20, neste fim de semana. Seria uma chance de melhorar a imagem do Brasil depois do desgaste provocado por sua ida à Assembleia Geral da ONU, no mês passado, em Nova York. Mas não se recomenda tanta esperança quando o mundo ainda repercute a declaração do presidente de que a vacina contra a Covid causaria Aids.
Também não ajuda o fato de Bolsonaro, que insiste em não se imunizar, desdenhar a COP 26 para cumprir uma agenda pessoal: visitar a pequena Anguillara Veneta, cidade onde nasceu um bisavô do presidente, com pouco menos de 5 mil habitantes, no norte da Itália.
A Conferência do Clima da ONU, em Glasgow, na Escócia, será o grande ponto de encontro dos líderes mundiais na próxima semana. A delegação brasileira será chefiada pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite.
O recado do TSE
Mentiras custaram o mandato de Francischini / Tânia Rêgo; Agência Brasil
Os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiram não cassar a chapa Bolsonaro-Mourão, o que significaria a interrupção do mandato do presidente da República e seu vice. A corte reconheceu que os disparos de mentiras em massa durante a campanha de 2018 favoreceram os eleitos, mas disse não ter como responsabilizá-los por essa disseminação.
A pouco mais de um ano do fim do mandato, pode ter sido mais prudente deixar nas mãos dos eleitores a decisão sobre um segundo mandato para Jair Bolsonaro ou a escolha de um novo presidente. Se fosse afastado, Bolsonaro e seus apoiadores poderiam passar o resto da vida dizendo-se vítima de golpe. Outra consequência possível era a radicalização dos ataques à democracia brasileira em meio à eleição indireta de novo presidente e vice pelo Congresso Nacional.
O recado do TSE foi dado com a cassação e a inelegibilidade por oito anos do agora ex-deputado estadual Fernando Francischini (PSL-PR), recordista de votos na disputa por uma vaga na Assembleia Legislativa do Paraná, em 2018. Bolsonarista de primeira hora, Francischini foi punido por espalhar mentiras sobre fraude nas eletrônicas durante as eleições de 2018. Seu vídeo foi visto 6 milhões de vezes e, segundo o ministro do TSE Luis Felipe Salomão, “levou a erro milhões de eleitores”.
O ex-deputado vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal. Mas como a decisão do TSE entra em vigor imediatamente, além de Francischini, perdem outros três deputados do PSL que tinham sido eleitos com a “sobra” dos 427.749 votos de Francischini. Como os votos foram anulados, o quociente eleitoral será recalculado.
Para ficar de olho no fim de semana
– Nas discussões do G20, que além dos temas econômicos será uma espécie de prévia do G20. Com as participações remotas do russo Vladimir Putin e do chinês Xi Jinping, as atenções estarão voltadas para o americano Joe Biden que tem feito rodado o mundo em seu primeiro ano de mandato para tentar desfazer a impressão deixada pelo antecessor Donald Trump.
Para ficar de olho na semana que vem
– Nas discussões da COP 26, que terá mais importância quando países e as grandes corporações são cada vez mais cobradas por sua pauta socioambiental.
– Na disputa entre o ministro Joaquim Leite e o governador de São Paulo, João Dória, pelo protagonismo na reunião em que Bolosnaro não estará presente.
– Na reunião que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), terá com a diretoria da Petrobras depois do feriado de Finados Está tramitando na Casa legislativa projeto de lei já aprovado na Câmara dos Deputados que fixa o valor dos combustíveis para incidência de ICMS. O texto pode levar à redução do valor do diesel e da gasolina para os consumidores e da arrecadação de Estados e municípios.
Para ver (e ouvir) no feriadão
As capas de Chico e Caetano/ Companhia das Letras/Divulgação; Fernando Young/Divulgação
Chico & Caetano, a dupla que marcou as noites de sexta-feira da Rede Globo no longínquo ano de 1986, volta à parada de sucessos, como se dizia 35 anos atrás.
Depois de seis romances, Chico Buarque acaba de lançar o primeiro livro de contos, Anos de Chumbo e outros contos (Companhia das Letras). Caetano Veloso acaba de subir no streaming o disco Meu Coco. Cada um no seu quadrado, mas com a excelência de sempre.
Para quem quiser ver ou matar a saudade dos dois juntos, todos os episódios de Chico & Caetano estão disponíveis no Globoplay.