As manifestações de 7 de setembro de 2021 inauguraram um novo momento político e, para entendê-lo, do ponto de vista das Relações Institucionais e Governamentais, há que considerar:
1. Há 13 meses das eleições, Bolsonaro traz para si o eleitor distante
- 2021 foi um ano conturbado para o presidente. Erros e demora para vacinar a população, a inflação, sobretudo de bens essenciais como gasolina e carne, acentuaram a desaprovação da atual gestão. Era preciso fazer algum barulho. E ele foi feito no feriado.
- Eleitores que, até então, estavam menos vocais na defesa do presidente, compareceram às manifestações para apoiá-lo.
- Houve plateia em grande volume, mesmo que não dentro do esperado, para que o presidente enviasse mensagens à mídia, ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal. Bolsonaro não estaria totalmente isolado. Manteria a base de apoio rumo a 2022.
- A tendência, por enquanto, é a de que o presidente mantenha o tom mais alto e, consequentemente, a base inflamada.
2. Como se comportarão as lideranças políticas?
- A postura das lideranças políticas nos próximos dias será um indicativo de como os demais poderes deverão reagir à escalada do discurso do presidente. É primordial, monitorar.
- Após as manifestações, as sessões do Plenário e das comissões do Senado Federal foram canceladas pelo presidente Rodrigo Pacheco (DEM/MG). Ele ainda busca se consolidar como eventual terceira via nas eleições presidenciais. Discursou em favor da democracia nas redes sociais.
- O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL), por sua vez, ficou em silêncio na terça. E quando falou, hoje, simplesmente, falou. Como representante do Centrão, Lira terá muito o que negociar daqui para frente. Manteve os trabalhos em Plenário e demais colegiados, inclusive mantendo em pauta projetos que alteram regras eleitorais.
- Importante observar que Ciro Nogueira, cacique do Progressistas e atual ministro da Casa Civil, não acompanhou a comitiva ministerial durante os protestos.
- O tema impeachment chegou às lideranças dos diretórios partidários, com nomes fortes como o de Gilberto Kassab (PSD) e João Doria (PSDB) se posicionando pela remoção do presidente. Há, no entanto, divisão de opiniões quanto ao assunto.
3. Qual o impacto na agenda política?
- Ainda que seja altamente improvável que os partidos do Centrão abandonem o barco e devolvam todos os cargos que hoje ocupam na Esplanada, o fato é que o apoio a Bolsonaro agora custa mais caro. A ofensiva do presidente contra o STF e o Congresso Nacional é uma briga grande demais para que parlamentares do Centrão comprem tão facilmente. Esse cenário deve influenciar o andamento da agenda política do governo.
- Fica reduzida, por ora, a capacidade do governo de acelerar o andamento de pautas de interesse. Isto é, a força da negociação passa a pender para o Congresso. Isso deve fazer com que as vontades dos parlamentares sejam incorporadas cada vez mais às propostas aprovadas — incluindo os jabutis.
- O cenário deve afetar propostas relevantes em tramitação, como as reformas administrativa e tributária, as mudanças no código eleitoral e a indicação de André Mendonça ao Supremo Tribunal Federal.
- Outra medida que pode ser afetada é a MP do Marco Civil da Internet. Resta nas mãos de Rodrigo Pacheco (DEM/MG) a decisão sobre o acolhimento ou devolução da proposta, que limita a capacidade das plataformas de remover contas e perfis de redes sociais. Caso determine que a medida não poderá tramitar, será mais uma indicação de que o presidente do Senado gritará de volta a Bolsonaro.
O que fazer agora?
a) É preciso continuar ouvindo e dissecando discursos nas linhas e entrelinhas. Silêncios como o de Arthur Lira (PP/AL), de ontem para hoje, têm significados fortes.
b) Monitorar resultados de reuniões partidárias pra entender matérias que andarão e outros que deverão ficar emperradas a partir de agora.
c) Ouvir os bastidores da reunião de líderes da semana que vem na Câmara e no Senado.
d) Entender como Rodrigo Pacheco (DEM/MG) dará as cartas a partir de agora e se o sonho de disputar a Presidência já se modifica.
e) Avaliar com equipes de Relações Governamentais o momento de retomar conversas com o Executivo e com quais novas mensagens-chave.
f) Monitorar as manifestações da oposição para compor a grande imagem do momento político.
Núcleo de Relacionamento com o Poder Público da Oficina Consultoria.