As relações entre indivíduos podem ser construídas por uma convergência de fatores, contextos e percepções. O comportamento do ser humano, boa parte das vezes, pautou qual a imagem que este dispõe em seus círculos de interação. No princípio havia muito empirismo nesse trato com a “cadeia de valor” que cada indivíduo dispõe. Construía-se muita expectativa, muitos vícios e muita “paixão” pelo que entendia ser o correto a se fazer. Surgiam os arquétipos sociais para construção de relacionamento.
A ausência de informação qualificada, quantificada, higienizada e atualizada sobre comportamentos, contextos sociais e espaciais podem ser considerados um dos grandes “gaps” enfrentados pelos indivíduos e organizações na construção de relações e reputação até meados do séc. 20. O conhecimento técnico e tecnológico sobre gestão e relacionamento era adquirido/construído, mas não havia escala e agilidade para disseminação, ou até crítica. Da mesma forma havia uma escassez de troca e coleta de dados e informação, afinal o analógico e o feeling eram as ferramentas da época.
Com o advento da internet (1969) temos uma disrupção ao que se pode compreender como acesso à informação. Não se trata somente do trânsito de dados, mas sim do potencial de cruzamentos, correlações, combinações e extrapolações que derivariam a partir daquele momento. Além disso, o advento dessa nova tecnologia fez com que a curva de inovação incremental em acesso a dados e informações torna-se ainda mais exponencial. Evoluímos de forma orgânica, espacial e em escala logarítmica. Nos tornamos fonte de informação e geração de conteúdos e dados.
A construção de relacionamentos organizacionais ou entre indivíduos, antes analógicos e agora digitais, transformou o formato e o cuidado com que saímos da inércia para iniciar esse processo. Digo que partimos para um método “nipônico ágil”, onde pesquisamos, analisamos, desenvolvemos, testamos, aplicamos e evoluímos. Um mecanismo cada vez mais “just in time”, onde tecnologias embarcadas, IoT, Indústria 4.0 e conteúdo, muito conteúdo são aplicados constantemente. O contexto social tornou-se mais tecnológico e amadurece o consumo de dados e informações numa velocidade cada vez mais rápido (WhatsApp no 2x está aí, rs.)
Uma das preocupações que circulam as grandes organizações está atrelada à celeridade de retorno sobre a percepção de sua reputação. Dados. Precisamos deles e precisamos rápido. Em virtude da instabilidade e volume de informações uma marca pode ser consagrada hoje e amanhã ser totalmente cancelada. O processo em si não está associado a combater eventuais crises de imagem organizacional, mas sim ter ação preditiva sobre o mercado.
Adaptando a fala de Pierre Bourdie:
“os circuitos de consagração da reputação de uma organização serão tanto mais eficazes quanto maior a distância da percepção sobre reputação da marca consagrada”
Confiança e coleta de dados, métodos e modelos analíticos, redes de informação primária e processo integrado de informação convergem em opções e recomendações para negócio. Esse processo, conhecido com Inteligência de Mercado (IM), trouxe maior robustez e assertividade nas tomadas de decisão em diversos segmentos de atuação, desde o mercado financeiro, indústria e agências de comunicação. Importante destacar que, no setor de comunicação, não se deve restringir IM a monitoramentos em ambiente digital, o conhecido BI (Business Intelligence). A esfera de atuação de IM extrapola o digital e mergulha no negócio, em relações econômicas, em ESG e resultado. O termo Reputation Market Fit surge com o propósito de deixar claro a necessidade de constante evolução da gestão da imagem organizacional amparada por inteligência de mercado.
O efeito da automação é, muitas vezes, o foco de previsões sobre o futuro da gestão da reputação. Quando associado à Inteligência, propicia a o vislumbre de tendências sobre variáveis irão gerar influência sobre a percepção de imagem organizacional. As megatendências, atualmente, estão associadas a dimensões de conhecimento e estudo como: envelhecimento da população, questões energéticas, incertezas políticas, escassez de recursos naturais, mercado de trabalho, mobilidade e urbanização, diversidade, incremento de desigualdade, acesso e veracidade de informação e proteção de dados. Cabe aos especialistas de Inteligência se aprofundarem em novas vertentes de conhecimento associadas as megatendências e quebrar paradigmas de estudo que levam ao viés de confirmação. Desta forma, rompemos novamente com a “paixão” pelo que entendemos ser o único caminho certo a ser feito para gestão de reputação e relacionamento.
João Chequer
Head de Inteligência de Mercado